sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Quando canta uma dor

Desabafo

Quando quis me alfabetizar
Pai e mãe a desobedecer
Andar dezoito quilômetros por dia
Quer chova quer faça sol
Na lama eu pisava com fé
Sem condição de calçados
Por vezes fiquei sem a sola do pé
Quando doía sangrava, eu mancava
Corria, brincava, sorria e andava
Tomar muito Sol de brilho escaldante
todos me chamavam de negrinha
Porém eu era feliz, tinha a esperança
Eu queria um mundo melhor e
Todos os meus dentes para sorrir
Naquela década de setenta
Era parte de pensadores rebeldes
Nos centros urbanos existiam os hyppies
Eles negavam a ordem social
E também os erros do mundo
No Nordeste existiu e ainda existe
Modestos aventureiros

Perene a corrupção, nada mudou!
Explorar criança, prostituição precoce
Consciência humana sem evolução?
Ao embarcarmos na aventura da mudança
É porque somos otimistas, temos fé
E como patriotas amamos o Brasil!

Mulheres indagaram: por quê sois avante?
Sou mulher da Nova Era, da luta não fujo não
De manhã educadora, também rainha do lar
De tarde Maria das compras, à noite amada amante
Mostrar-se ao marido homem de compreensão
De madrugada nos livros a confabular

Vamos viver uma seca lá no Nordeste?
De um lado um Inocêncio com seus poços,
Sua mansão com plantação de videira
De fora daquela cerca vai passando bóia-fria
Montado no seu jumento de cangalha e caçuá
Humilde, maltrapilho, fedendo que nem gambá
Viver uma seca é ter sede e não ter água

É ter fome e não ter o que comer
É ver bichos morrendo sem saber o que fazer
É ver a cinza do sol quente, tão quente
Que o pé já não agüenta
É andar léguas de rodilha e pote
Naquele sol escaldante
É ver a morte de nosso futuro mesmo antes de nascer...

Sou a protagonista do Meu Universo Interior I, razão e emoção unidas revelando o amor. Minha saga nordestina revela parte de mim. Ademais, fui crescendo com asas de adolescente esquecendo os anos que tinha e dançando no adejar do poeta amador. Quando Adentrei no espaço físico do intelecto santista fui amada por uns e odiada por outros. Por quê? Fazia teatro sem nunca ter pisado num tablado, incomodava atores profissionais que não conheciam a minha linha de pensamento, nada oculta, bastava uma leitura reflexiva dos meus escritos. Em 1982 comecei a escrever como forma de preencher um vazio inexplicável e sem perspectiva de editar. Nascia minha carta de alforria (minha saga nordestina) que me levaria à faculdade e a realização do meu sonho de criança: ser professora de verdade. Em 1996, como sócia da APEBS (Associação de Poetas e Escritores da Baixada Santista) proferi o meu primeiro discurso de doze minutos e emocionei os convidados. Foi o eco improvisado das vozes sertanejas que habitavam dentro de mim. Saí dali como escritora e declamadora. Abracei o prêmio e segui em frente. Já recebi dois prêmios da Secretaria da Cultura de São Vicente. A princípio foi o reconhecimento de um poema homenageando o artista plástico Geraldo Albertine atual dono da cadeira nº 11 da Academia Vicenttina de Letras "Frei Gaspar da Madre de Deus". O poema está gravado na parede interna do Museu do Escravo no Horto Municipal de São Vicente. Quanto ao segundo trata-se de um livreto de poemas em parceria com Íria Belchior graciosamente pela Secretaria da Cultura e doado para as escolas municipais projeto Leia São Vicente.
Atualmente o meu grande livro é A Cozinheira Nômade, um romance/novela com 143 receitas da comida brasileira.

Noite de gala para Gelza Reis Cristo
Escrevo:
Quando não consigo dormir
Quando não posso gritar
Quando a ação vem do ar
Quando o meu eu grilhar
Quando não há asas pra voar
Quando a razão impõe
Quando o SOL se opõe
Quando minha alma vibra
Quando vem a esperança
De um desejo infindo
Enfim, escrevo porque sou feliz
Quando pinto a folha branca

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