domingo, 2 de janeiro de 2011

Luiz Vaz de Camões por Gelza Reis Cristo

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Camões, poeta da globalização


Camões, no último canto de sua célebre obra “Os Lusíadas”, leva Vasco da Gama e seus companheiros à Ilha dos Amores. Lá, uma espécie de paraíso terrestre, eles são recebidos de modo extremamente cordial por belas ninfas que estão dispostas a fazer tudo o que desejam. Fartam-se em grandes banquetes, com os melhores vinhos e iguarias, e têm todos os seus desejos atendidos.
No final da festa, enquanto todos descansam, Tétis, deusa do mar e principal anfitriã, convida Vasco da Gama a conhecer a Máquina do Mundo. Esta máquina fantástica permite que sejam vistos todos os continentes e sua relação com o Cosmo. Era uma espécie de miniatura de toda a criação divina. Maravilhado, Vasco passa então a ouvir atentamente todos os prenúncios de Tétis.
É através dela que Camões nos mostra a sua visão desse novo mundo que surgia. Suas reflexões são antecipam a história pois mostram as possíveis conseqüências das grandes mudanças que vinham ocorrendo.
O momento era o das Grandes Navegações, em que inovações tecnológicas permitiam a construção de naus cada vez melhores e davam ao homem a sensação de controle da natureza. Foi um período de grande euforia econômica no qual os homens tornaram-se mais ousados e ampliaram seu campo que visão, antes restrito aos feudos. Certas Ideologias e valores, até então intocáveis, começam a ser questionados Nesse contexto, o Renascimento surge como expressão artística dos anseios dos homens nesse período de transição.
Camões, principal representante português desse período, não podia deixar de tratar do assunto em “Os Lusíadas”. Ele fala através de Tétis, que em sua conversa com Vasco da Gama, revela a missão da Europa cristã (especialmente Portugal) que deverá difundir a sua fé para a “gente sem lei”. Era preciso trazer esses povos à luz do Cristianismo e só a Europa, a mais evoluída entre todos, seria capaz disso. Assim, Camões prevê aquela que seria uma das práticas mais comuns da história da humanidade: o Colonialismo. Não importa a maneira como se apresenta, ele existe até hoje. Há sempre povos que se acham superiores a outros quando na verdade são apenas diferentes. Por isso, tomam como missão espalhar seus valores a esses povos e mostrá-los o caminho correto. Mesmo o Colonialismo existindo antes do Renascimento, é a partir daí que ele ganha força e se torna prática constante.
Outro aspecto importante que Tétis (ou melhor, Camões) expõe é um conceito que hoje nos parece tão familiar: a globalização. A expansão marítima teria como conseqüência principal a interligação dos povos. Não existiriam limites para o homem, que levaria sua cultura para os cantos mais longínquos, transformando o mundo em algo único em que todos se influenciariam mutuamente e teriam um destino comum.
Trata também das resultados negativos que esse processo viria trazer. Essa expansão ilimitada aguçaria ainda mais a vaidade e a cobiça dos homens que lutariam entre si pelas novas terras. Cada povo iria quer para si o direito de “elucidar” os gentis e assim ter o direito de usufruir de suas riquezas o que causaria inúmeras desgraças à humanidade.

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