terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Cidade de Adustina Bahia

Homenagem a cidade de Adustina por Gelza Reis Cristo
Igreja Matriz de Adustina




Quero fazer aqui a minha primeira homenagem poética, neste blog, a minha cidade natal, Adustina, localizada no “polígono das secas”, terra por onde andou Antônio Conselheiro e Virgolino Ferreira da Silva, o LAMPIÃO. Região da Bahia de histórias e lendas de um bravo povo que labuta em terrenos férteis da colheita do feijão, milho e outrora muito algodão. Habitei nessas terras por vinte anos como poderei esquecer tempos difíceis com muita seca e poucos recursos? “Recordar é viver” e lembro-me como se fosse um passado recente do tempo em que não havia açude e tampouco tratores arando terras para o plantio dos grãos. Tudo era feito com as mãos do homem rude que não se preocupava com a devastação da natureza. A mata virgem era derrubada em favor da sobrevivência das famílias numerosas que necessitavam de muito alimento. Como o governo estava distante o povo nordestino usava da enxada e da picareta para derrubar o mato e fazer grandes coivaras para depois queimá-las no fim de tarde com um belo sol em arrebol; ora se escondia em nuvens brancas e cinzas ora virava uma bola de fogo. Somente a viração do começo da noite dava um novo aspecto ao sertão da vila de Adustina na minha juventude de sonhos e fantasias.

Hoje ao retornar a minha terra natal encontrei progresso e muitos artistas, cada um com o seu jeito e sua luta para valorizar a difícil arte do dom.

Muitas festas religiosas fazem parte do calendário da cidade e uma em especial, a festa do padroeiro de Adustina Senhor do Bomfim traz histórias de moradores antigos que fundaram a vila de Queimadas, hoje Adustina.





Adustina Festeja Senhor do Bonfim





É com muita honra, sendo filha de Adustina no norte da Bahia, e com tantas histórias contadas na minha autobiografia Meu Universo Interior I, que doravante farei uma transcrição de um momento festivo do padroeiro daquela cidade tão querida por tantos filhos que hoje vivem distante. Sou privilegiada porque posso voltar vez ou outra para rever parentes e amigos no mês de janeiro no qual é realizado o momento de agradecer ao Senhor do Bonfim pelo bom ano passado e pedir novas graças para o ano vindouro. Conta o livreto elaborado pelo pároco Pe. Lúcio Pante e distribuído durante a celebração do novenário no ano de 2009, na Igreja Matriz da cidade de Adustina, que foi no ano de 1745, 18 de abril a chegada da imagem pelo seu devoto Capitão português.





O culto ao Senhor do Bom Jesus do Bonfim nasceu com a vinda do Capitão de Mar e Guerra, o português Theodózio Rodrigues de Faria, para a Bahia em 1740, quando pontificava na igreja o Papa Bento XIV, sob o reinado em Portugal de D. João V, e governava a Colônia na Bahia o 5º vice-rei, André Melo e Castro, conde das Galveias. Foi nesse período que o benemérito Capitão de Mar e Guerra, pela Grande devoção que tinha ao Senhor do Bonfim, através da imagem que se venera em Setúbal, Portugal, trouxe de Lisboa uma semelhante aquela, esculpida em pinho de Riga, medindo 1,06 m de altura.

Pela Páscoa da Ressurreição do Senhor, em 18 de abril de 1745, com grande festividade e a sua custa, o Capitão devoto colocou a imagem para a veneração dos fiéis na Capela de Nossa Senhora da Penha de França de Itapagipe.

Naquela mesma solenidade, com a presença do Arcebispo da Bahia, D. José Botelho de Matos, foi requerida licença e fundada uma irmandade de devotos leigos que, após eleição passou a denominar-se “Devoção do Senhor do Bonfim”.

Os objetivos da devoção que, entre outros, até hoje perduram, tinham como prioridade zelar e manter o culto ao Senhor do Bonfim, filho de Deus.

Segundo os dizeres do Dr. José Eduardo Freire de Carvalho Filho, tesoureiro da devoção de 1884 a 1934, dedicado estudioso da história da instituição, “o culto a Jesus crusificado, Senhor do Bonfim, propagou-se e tomou vulto. Grandes romarias, desde então, sucederam-se com freqüência e as notícias de graças e milagres alcançados, corriam por todo o Brasil. O Senhor do Bonfim ia aos poucos concentrando a piedade e o fervor do povo baiano que passou admirá-lo como seu grande proteto.

Espalhando o culto de fé e veneração e aumentando a afluência de fiéis, decidiu o Capitão, junto aos companheiros de Devoção, construir em definitivo uma capela.

Em 1746, foram iniciadas as obras, em “local de rara beleza que fica a cavaleiro da península de Itapagipe e dá caminho para o cabo do Monte Serrat”. A sua arquitetura seguiu o modelo das igrejas portuguesas do século XVIII e XIX.

No dia 24 de junho de 1754, após a conclusão das obras internas, foi transladada a sagrada imagem da Capela da Penha para a colina do Bonfim, em imponente procissão, ocasião em que governava a Bahia o 10º Conde de Atouguia e VI vice-rei, que prestigiou a solenidade junto com toda a população da cidade. Após a missa festiva, foi colocada a imagem no trono em um nicho, assim como a de Nossa Senhora da Guia, que o devoto Capitão houvera trazido de Portugal juntamente com o Senhor do Bonfim. A imagem da mãe, Senhora da Guia, esculpida em madeira com 90 cm, também dádiva do fervoroso capitão, começou de então ser venerada junto com seu filho.

Pelos caminhos misericordiosos da Providência, e por entre as veredas insondáveis de nossa história, aprouve à bondade do Senhor Crucificado que seu culto especial tivesse início em terras de Portugal, para chegar até o Brasil, precisamente a terra-mãe Bahia, e aportasse na cidade que já lhe dava o nome São Salvador e, daqui, a fé e a generosidade da piedosa gente baiana espalhassem sua devoção para todo território nacional.



AS FITINHAS DO BONFIM

Desde 1809 foi introduzido o uso das medidas e registros. Estampas do Senhor do Bonfim pelo tesoureiro da Devoção Manoel Antônio da Silva Servo, e assim tem continuado há mais de cento e oitenta anos ininterruptamente. Houve tempo em que havia medida de Nossa Sra. Da Guia. As fitinhas do Senhor, como são conhecidas hoje e tão difundidas, são chamadas de “medidas” porque tradicionalmente tinha a medida do comprimento do braço direito da imagem do Senhor do Bonfim.



A CHEGADA DO SENHOR DO BONFIM EM ADUSTINA





Contam que numa Santa Missão feita por frades capuchinhos em 1920 foi trazida a primeira imagem do Senhor do Bonfim para Queimadas,

hoje Adustina. Mas os festejos eram para Nossa Senhora da Vitória de 1º a 31 de maio. No dia 24 de outubro de 1984 foi celebrada a primeira Novena de Senhor do Bonfim na Igejinha, com a participação de Samuel, Nazira, Dina de Revoltoso e Maria de João Vaqueiro, recebendo neste mesmo período uma nova imagem de Senhor do Bonfim em tamanho maior, trazida por Sr. Licanor da cidade de Simão Dias, que junto com o grupo fez a doação desta imagem para a nossa comunidade. No término da novena a imagem de Senhor do Bonfim (antiga) sai em procissão pelas ruas. Buscando informações sobre os festejos do Senhor do Bonfim em Salvador, descobriu que o mês a comemorar era em janeiro, em virtude disso passou-se a festejar a data certa, de 07 a 16 de janeiro de 1985, já na igreja que hoje é Matriz do Senhor do Bonfim. Houve um impasse em virtude desta data coincidir com o chamado Natal de Adustina e o nosso povo não tinham em suas raízes a tradição de Festa de Padroeiro. Mas Senhor do Bonfim conquista corações e faz brotar na fé do povo de Adustinense o amor, que anos mais tarde se tornaria oficialmente Padroeiro de Nossa Paróquia, sem com isso perder o amor a Mãe de Deus Nossa Senhora da Vitória. Nesta mesma época Samuel (catequista) convida alguns jovens e junto com seu grupo de catequizandos, forma o Coral Senhor do Bonfim que passa a trabalhar na animação das Festas Religiosas da comunidade. Hoje em 2009 temos a grande alegria de festejar o 25º aniversário da Festa do Nosso Padroeiro Senhor do Bonfim. (...)



HINO AO SENHOR DO BONFIM



“1.Glória a ti neste dia de glória! Glória a ti, Redentor que há cem anos, nossos pais conduzistes a vitória, pelos mares e campos baianos.



REF.: Dessa sagrada colina, mansão da misericórdia, dai-nos a graça divina, da justiça e da concórdia.



2. Glória a ti, dessa altura sagrada, és eterno fanal, és o guia, és Senhor sentinela avançada , és o guarda imortal da Bahia.



3. Aos teus pés que nos deste o direito, aos teus pés que nos deste a verdade, canta e exulta num fervido preito, a alma em festa da tua cidade.



4. A alma heróica e viril deste povo, nas procelas sombrias da dor, como a pomba que voa de novo, sempre abriste o teu seio de amor.”



NOTA: este livreto em homenagem aos 25º aniversário de devoção ao Senhor do Bonfim foi elaborado pelo pároco Pe. Lúcio Pante que atua na cidade de Adustina e é muito querido dos cristãos pelo seu magnífico trabalho em prol da comunidade. Parabéns povo de Adustina!

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