Fragmentos do MEU UNIVERSO INTERIOR
Sentia-me como um pintinho querendo romper a casca do ovo que o mantinha na escuridão sem enxergar e viver. Porém a casca que o mantinha era tão profunda para o tamanho de sua fraqueza;
As mulheres sempre foram às maiores vítimas. Destinadas ao casamento e a fidelidade indiscutível, o homem (primeiro e único), os filhos, a falta de métodos anticoncepcionais;
Tudo estava escrito pela sociedade e seus costumes. Contudo, aquela garota não ia aceitar as regras da sua região;
O rádio, o seu mestre, passava essas e outras informações do mundo; inclusive a chegada do homem a lua. No entanto, por ser analfabeta acreditava que naquele pedaço de madeira moravam os homens que falavam ali;
Vieram as crises, os momentos de felicidade, os filhos, a criação deles como também os incidentes que geraram a reflexão para o resgate do sonho adormecido;
Não fora educada para trabalhar fora depois de casada. Não fora educada para brilhar mais que o homem de sua vida;
O crescimento da autora fora muito lento visto que permanecera vinte e três anos sem estudar, apenas como doméstica;
Lá fora estava o mundo e eu precisava vê-lo, mas não podia. Sentia-me como um pintinho que queria sair do ovo, enxergar a claridade, viver;
Naquele sertão nordestino, debaixo de sol ou chuva, mais sol do que chuva, ir para a escola era um sonho de curta duração;
Minha Primeira Escola
O professor Neca chegou e iniciaram as aulas da escola de verão. Todos os dias, bem cedo, os irmãos, primos e primas, com sacolas de farinha e ovo frito, e por vezes alguns pedaços de galinha que sobrara da janta, seguíamos rumo à casa do tio Dandinho;
As rugas precoces não sabiam da existência dos cremes, e a expressão das mulheres nos tempos de seca era de sofrimento e cansaço;
Agostinho Gregório dos Reis, o meu avô, ao falecer deixou uma herança numerosa que levou um ano para ser concluída. Toda a região participou do inventário do gado;
Esperança morta, violência viva; não sabíamos o que fazer nem dizer diante dos animais mortos e da falta de água. O fazendeiro deixava cair o chapéu só para coçar a cabeça;
A nossa maior riqueza veio de Cocorobó. Examinaram o terreno, aprovaram um açude e muitos anos depois, para a vida animal, morrer de sede era lenda;
Morrer num pequeno espaço
Sem ajudar ao próximo
Naquele tempo chorava
A cultura que não tinha
O Meu Primeiro Livro
Como não podia perder tempo abandonei os colegas e saí em disparada; mais importante era ter o primeiro livro.
A caneta da Gelza.
Além de chutar a enxada riu cinicamente.
Um Casamento, uma esperança.
A união conjugal mudou a vida do casal e a minha também.
Paguei por errar.
Montei no jumento e fui até o campo de futebol. Minha cabeça fervia porque não tinha maior idade tampouco aceitava um NÃO.
A Prova de fogo
Terminava a aula e já era à hora do almoço. Todas as ruas da vila cheiravam a bife ou ovo frito. Mesmo que fosse apenas pura imaginação. O nosso almoço só ia acontecer às quinze horas.
Durante o inverno não faltava na aula. Era no barro que os meus pés pisavam, e sem calçados.
Ouvi o canto do sofrê que anunciava a minha tristeza. Não queria acordar do pesadelo. Desejei a picada de uma cascavel para deixar o meu pai com remorso.
Apesar da forte atração que sentia por aquele jovem, na hora da decisão dei prioridade absoluta aos estudos.
O Milagre da Encruzilhada
As razões do tio eram justas. Deveria ser corajosa para arcar com tanta responsabilidade.
A VIAGEM
A minha aventura ao lado do caminhoneiro parecia interminável.
Difícil Adaptação
Limpei as lágrimas com a mão esquerda no dorso empoeirado. O patrão mandou que eu passasse no início da semana para pegar a última parte que me cabia de herança;
O Casamento Predestinado
22 de março de 1980.
A Crise existencial
O sono veio instantâneo e duas horas depois ela acordou com um clarão que vinha da cozinha.
Decisão
Sentou-se e sentiu o ritmo do coração. As lágrimas banhavam o rosto e sorria mesmo assim; era a felicidade gerada pela decisão de ser uma escritora.
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