História da Pensão de Dona Alzira
Gelza feliz ao abraçar Maria Da Graça,a filha de D. Alzira
Como eu gostaria de ter mil histórias pra contar da pensão de dona Alzira, na minha cidade querida, a famosa Adustina, o nosso orgulho no mapa, lá no norte da Bahia.
A pensão de dona Alzira bem na praça principal onde no mês de janeiro acontece o nosso festejado Natal ou festa da padroeira do Nosso Senhor do Bonfim.
Foram décadas, muitas décadas que ela mostrou no seu dia-a-dia a tradição do lugar e para os muitos visitantes era a única pensão que podia acolher quem por ali andasse. Aquela pensão modesta de moradores alegres e de hóspedes ligeiros, personagens diversos que a tiravam da rotina. No sertão de longos dias e noites de lua cheia, pois a famosa luz elétrica sumia como candeia. Janeiro era mês de astros longe de telas da TV, mas pra tietes da vila eram mais que alegrias, eram cochicho de baile e desejo do amanhecer. Era na Pensão de dona Alzira que os músicos da orquestra descansavam para começar o baile onde as moças de Adustina, cobertas de purpurina sentiam o novo ano nascer. Tudo era confirmado por não haver outro lugar do artista pernoitar. Todavia o que temos pra dizer é sobre uma pequena história que dona Alzira contou de um dos seus tantos hóspedes que por ali passou e o tempo era mesmo longínquo que nem do nome dele ela lembrou. Orgulhou-se da trama que inventou para satisfazer um freguês que do seu cafezinho reclamou. A feira de Adustina como toda feira nordestina movimentava o comércio.
__Bom dia dona Alzira!
__Bom dia senhor Mestre Campos, em que posso servi-lo?
__Desejo um bom almoço seguido do seu cafezinho.
Com gestos rápidos pendurou o chapéu na chapeleira, sentou-se na preguiçosa como de costume e laçou seus braços para trás bem inclinado na cadeira procurando com um olhar minhas duas flores que o fingidor gostava de flertar. Dizia ela.
__Vou apenas cochilar e quando tudo estiver pronto faz favor de me chamar.
Maria da Graça não deixou de comentar: “Ele é sempre folgado, pouco revelador, observador, e aposto que do seu cafezinho ainda irá reclamar”. O dito da moça estava correto e mais uma vez ele reclamou do cafezinho que estava frio.
__Como o senhor é ingrato! Respondeu a dona Alzira dizendo que no seu ramo tudo era mesmo divertido.
__Posso dizer com franqueza que o cheiro da sua carne foi sentido da esquina, mas já o seu cafezinho continua muito frio. Disse o Mestre Campos dando adeus naquele dia e lá se fora o cobrador de impostos para algum dia retornar.
E o tempo passou...
__Bárbara, você viu quem já chegou? E a segunda flor da casa logo adivinhou.
__E não é o Mestre Campos que do seu café reclamou?
__Pois é! Mas dessa vez garanto-lhe que daqui sairá sem voz e jamais do meu café vai resmungar.
“Dito e feito” A dona Alzira pôs em prática o seu velho plano: pegou uma xícara e levou-a ao fogo em abundante água fervente sem pressa de concluir o feito. Separou um suporte de madeira artesanal da região, especial para mãos finas que não suportam “calor”. Serviu o almoço com ar maroto que parecia menina fazendo arte.
__Mãe, posso saber quem será a vítima da xícara? Falou uma das filhas. “Fique quieta que hoje pego o falador!
Maria das Graças acabara de chegar e ao olhar para as duas mulheres não deixou de adivinhar que a trama era dupla e só restava esperar.
__E então seu Mestre Campos, satisfeito?
__Muito, e me traz seu cafezinho para amornar o beiço. Vê se capricha!
Dona Alzira se limitou a sorrir. Foi até a cozinha e pegou cuidadosamente o café que mesmo passado ainda fervia, pois do fogo ele saíra e a xícara também fervia. Juntou calor mais calor que o freguês se calou. Com a bandeja na mão observou reação que seu coração reprovou, mas recuar não ia não. Levantou o olhar para a tez do cidadão. Este ficou vermelho e foi tomando mais um gole. Cabisbaixo franziu a testa e não piscou pra murmurar:
__Não é que hoje a senhora conseguiu? O cafezinho esquentou!
E afastou-se o maçante, o cobrador de impostos.
__Engraçado, quis tanto aprontar essa e agora estou com dó. Comentou a dona Alzira, uma culinarista nata, dona da primeira pensão da futurista cidade de Adustina.
Autora Gelza Reis Cristo
Nenhum comentário:
Postar um comentário