sábado, 19 de fevereiro de 2011

Castro Alves- Gondoleiro do Amor

GONDOLEIRO DO AMOR Estudo e pesquisa por Gelza Reis Cristo


Castro Alves


Trata-se de um poema de Castro Alves, um poeta romântico da terceira geração que, inspirado em seu grande amor Eugênia Câmara, faz uma declaração de amor e compara a amada a vários elementos da natureza, como se pode observar na primeira estrofe do poema. Ao distinguirmos o poema citado como um contexto cujo encadeamento das suas palavras nos remete a um lirismo amoroso; isto é, “a preocupação com o próprio “eu”, a maneira como a alma, em seus juízos subjetivos, alegrias e admirações, dores e sensações, toma consciência de si mesma no âmago deste conteúdo. O que interessa realmente é a expressão da subjetividade como tal, das disposições da alma e dos sentimentos e não a de um objeto exterior”. (Massaud, moisés, Dicionário de Termos Literários, 2002, p.308).
O Gondoleiro do Amor é um poema significativo de tom contemplativo, pois no momento do nascimento da Canção dos Gandoleiros, em 1867, o poeta e a atriz estavam recolhidos “à casinha de barro” como recorda em “Aves de Arribação”. “Sobre a estrada/abriram a tarde as persianas”. Não há dúvidas de que a “barcarola”, sendo uma recordação do poema citado anteriormente, é “ideal e sentida”, “inundada de ternura e sem geografia”. Palácios de Sorrento em vez de palácios venezianos, a idéia de o Gondoleiro “vagar, naufragar, perder-se na água rasa dos canais, em que a imaginação do “eu-lírico” passeia em Veneza, criando um cenário ideal para a concretização do seu encontro amoroso.
Trata-se de um poema em modelo clássico, um quarteto com sete sílabas poéticas, heptassílabo ou redondilha maior, é o mais simples do ponto de vista das leis métricas. “Basta que a última sílaba seja acentuada e os demais acentos podem cair em qualquer outra sílaba. São versos melódicos de todas as épocas”. Temos a presença de rimas cruzadas ou alternadas ABAB ao longo do poema, sendo que, o primeiro verso rima internamente com o terceiro, enquanto o segundo e o quarto rimam externamente em todas as estrofes. Em todas as estrofes temos o domínio das vogais tônicas e, ô, i, á, (sons vocálicos iguais para cada fonema) em que encontramos um caso de rima toante de grande efeito musical, recuperando, então, a idéia trabalhada ao longo do poema, que eram as barcarolas, cantigas românticas dos gondoleiros de Veneza. Temos uma rima rica, pois as categorias gramaticais dos signos com rima tônica são diferentes: adjetivos, substantivos, verbos, preposição e pronomes).
Quanto aos aspectos sonoros, são os sons de S e R que marcam a aliteração, o que permite que o poeta consiga o efeito do ir-e-vir do mar e dos canais de Veneza.


ASPECTO INTRODUTÓRIO


O presente trabalho tem por escopo analisar o poema “O Gondoleiro do Amor”, cuja autoria é de Castro Alves, um dos poemas retirados da obra “Espumas Flutuantes”, em que concentra-se toda a face lírica do poeta tanto de cunho amoroso quanto social, porém, nos deteremos apenas ao estudo lírico-amoroso do poeta. Para lograrmos êxito em nossa atividade, abordaremos os aspectos de cunho estilístico, lexical, sintático e semântico, tomando como princípio do estudo a construção do poema em duas fases, sendo a primeira constituída por imagens obscuras, que vai da primeira à quarta estrofe, e, a segunda, por imagens brandas e claras, a partir da quinta estrofe, cuja intencionalidade esclareceremos no decorrer da análise.

Ao efetuarmos a leitura do poema, é notável a presença de uma regularidade linear que veicula todo o texto, no caso, quartetos heptassílabos ou redondilha maior, como podemos observar, mantendo em todas as estrofes do poema a acentuação do segundo e quarto versos que recai sobre a última sílaba poética, ou seja, a última sílaba será, em todo o poema, a sílaba tônica, no entanto, sabe-se que as redondilhas permitem uma liberdade na elaboração de rimas internas, recuperando um mesmo som, liberdade esta, muito característica das obras de Castro Alves. Verifica-se rimas alternadas conduzindo as imagens e a sonoridade, revelando a escolha do título e a sua relação com o poema. Na primeira estrofe, o eu lírico utiliza-se de verbos de ligação para transmitir a idéia de contemplação, assim como estabelece uma comparação (símile) entre o ser amado aos aspectos da natureza, em seu caráter misterioso de noite sem clarão, assim como as profundezas do mar, que demarcam um ambiente obscuro, revelando ser a primeira fase do poema de um tom teor também misterioso, como se o eu lírico estivesse numa constante busca:

Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;


Na segunda estrofe temos a presença de uma construção metafórica, em que o barco e a vida boiando à flor representam o vigor e a beleza da juventude perfeita. É importante ressaltar um outro recurso que tem por objetivo criar uma melodia, que é o refrão e será retomado ao longo do poema em estrofes alternadas.

Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
Do Gondoleiro do amor.


Novamente, na terceira estrofe, o eu lírico tem sua seleção lexical voltada para a construção de um cenário que envolve o momento amoroso numa sonoridade contextualizada. Percebe-se, em sua linguagem metafórica, que o sujeito lírico compara a inconstância de sua relação com a amada às ondas que vão e que vêm com grande intensidade de sentimentos:

Tua voz é cavatina
Dos palácios de Sorrento
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento.

A seguir, percebe-se uma inversão na ordem direta da construção sintática dos dois primeiros versos da quarta estrofe, que ficaria, então: “E como o pescador ama um canto em noites de Itália,” [...], para conseguir o efeito sonoro de rimar o segundo verso ao refrão. Chegando ao fim da imensa busca, o eu-lírico se harmoniza com a inquietude, ficando em paz com seu amor:

E como em noites de Itália
Ama um canto um pescador,
Bebe a harmonia em teus cantos
O Gondoleiro do amor

A partir destes últimos versos, há uma ruptura no cenário até então descrito por termos que remetem à escuridão de um amor ainda não totalizado para um ambiente que vai clareando à medida em que o eu-lírico se aproxima do objeto amado. Comparando os lábios da amada à rosa e à coloração que o dia vai ganhando antes da chegada do sol, sendo as “aves rubras do céu” uma conotação das cores que as nuvens vão adquirindo nesse momento.

Teu sorriso é uma aurora
Que o horizonte enrubesceu,
- Rosa aberta com o biquinho
Das aves rubras do céu.

Dando continuidade ao poema, percebe-se na estrofe a seguir a presença das adversidades no decorrer da existência, representadas no poema através dos fenômenos naturais, para expressarem a experiência amorosa em sua plenitude sentimental e carnal,

Nas tempestades da vida
Das rajadas no furor,
Foi-se a noite, tem auroras
O Gondoleiro do amor.

Percebe-se na estrofe que apresentaremos a seguir a exaltação da mulher, porém, não de uma mulher idealizada, mas de uma mulher carnal, concreta, possuída, envolta de uma sensualidade que constitui uma paixão integral e lasciva.

Teu seio é vaga dourada
Ao tíbio clarão da lua,
Que, ao murmúrio das volúpias,
Arqueja, palpita nua;

A sensação lírico-amorosa é tão intensa e profunda que o sujeito lírico se perde extenuado nesse colo de sensualidade inigualável, utilizando verbos de ação para descrever o quão imensurável é este amor, e, o verbo ser no presente do indicativo é a afirmação concreta de seu amor:

Como é doce, e pensamento,
Do teu colo no languor
Vogar, naufragar, perder-se
O Gondoleiro do amor!?


Na penúltima estrofe, temos termos que se opõem, em presença de uma antítese, qualificando o amor como sendo superior às forças espirituais e materiais, assim como o poeta descreve e realça o quanto era irascível a sua relação com a pessoa amada:

Teu amor na treva é – um astro,
No silêncio uma canção,
É brisa – nas calmarias,
É abrigo – no tufão;

Na última estrofe, o eu-lírico declara seu amor, por ser algo grandioso e supremo, acima de quaisquer situações, demonstradas pela antítese e, através de um vocativo clama nomes significativos para o seu amor

Por isso eu te amo, querida,
Quer no prazer, quer na dor...
Rosa! Canto! Sombra! Estrela!
Do Gondoleiro do amor.

Ao longo do poema, nota-se que o esquema rítmico é demarcado pela repetição das consoantes “s” e “r” e dos sons nasais, que proporcionam ao leitor, numa leitura em voz alta, a sensação das gôndolas sendo conduzidas juntamente às barcarolas, que são as cantigas de Veneza, recuperando o título da obra.

CONCLUSÃO

Tentamos mostrar através da análise deste poema, alguns dos recursos utilizados pelo criador da obra, que expressam toda a genialidade do poeta ao descrever o trajeto de um amor de início inconstante que vai se concretizando e superando os elementos predominantes ao possuir uma mulher de carne e osso, afeito às sugestões de um cenário perfeito para a plenitude amorosa .
Estamos analisando um poema construído em torno de comparações, antíteses, refrão, metáforas, hipérbole, vocativo e verbos. O poeta, em tom comtemplativo une o primeiro quarteto semanticamente: (como as e como os), fazendo uma comparação (Símile) e aproximando os dois termos-chave  “sem luar e negrume do mar” (fenômenos da natureza que causam escuridão). Observe que o R e o S são os causadores da aliteração no decorrer do poema.
No segundo quarteto  temos uma metáfora no segundo verso quando o “eu-lirico” omite a palavra juventude trocando pelo termo “Da vida boiando á flôr” e o ícone flôr revela a presença da figura de linguagem. O brilho dos olhos douram a fronte do amante. São imagens construídas pelo “Gondoleiro do amor”, o tripulante da gôndula nos canais de Veneza: construção de imagens pelo “eu-lírico”.



Ficha de documentação bibliográfica
CÂNDIDO, Antônio.
Formação da Literatura Brasileira Vol. 2
Universidade de São Paulo, l975 (pp. 268, 269);


CÂNDIDO, Antônio.
O Estudo Analítico do Poema
São Paulo, Humanitas Publicações /FFLCH/USP, 1996.

MOISÉS, MASSAUD.
Dicionário de Termos Literários A/3
Editora CULTRIX, São Paulo,SP 2002.


2 comentários:

  1. olá minha consultora!!!!!!!!
    VOu fazer algumas receitas este bolo de milho hum deve tá mto bom bjossssssssssssssssss

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  2. Vamos aguardar! Afinal a arte de cozinhar está para todos. Vai encarar?
    Amo cozinhar e criar uma iguaria de consquistar pelo estômago.
    Boa semana!

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