quinta-feira, 19 de maio de 2011

Sobre Gonçalves Dias - Pesquisa

Eu uso MARY KAY (saiba mais... cristogelza@gmail.com)




Por Gelza Reis Cristo
GONÇALVES DIAS

Pesquisa e estudo sobre as três gerações do Romantismo Brasileiro.


A lírica de Gonçalves Dias é um vôo nacional em que o autor com maestria constrói traços de formação clássica e lusitana, na sua rica formalidade poética, equilibra-se sem exageros românticos e não deixa de o ser. Como os demais colegas, também era a sua intenção elevar a poesia brasileira nas condições européias. Um empenho devido a contemporaneidade da Independência e a necessidade de uma cultura brasileira – temas preferidos: natureza, religião, amor, solidão, pátria, índio e medievalismo. Entre os românticos o melhor.

OLHOS VERDES
Eles verdes são:
E têm por usança
Na cor esperança
E nas obras não.
Camões, Rimas.
São uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos de verde-mar,
Quando o tempo vai bonança;
Uns olhos cor de esperança
Uns olhos por que morri;
Que, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como duas esmeraldas,
Iguais na forma e na cor,
Têm luz mais branda e mais forte.
Diz uma - vida, outra - morte;
Uma - loucura, outra - amor.
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São verdes da cor do prado,
Exprimem qualquer paixão,
Tão facilmente se inflamam,
Tão meigamente derramam
Fogo e luz do coração;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
São uns olhos verdes, verdes,
Que pode também brilhar;
Não são de um verde embaçado,
Mas verdes da cor do padro,
Mas verdes da cor do mar.
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Como se lê num espelho
Pude ler nos olhos seus!
Os olhos mostram a alma,
Que as ondas postas em calma
Também refletem os céus;
Mas, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vós, ó meus amigos
Se vos perguntam por mi,
Que eu vivo só da lembrança
De uns olhos da cor da esperança,
De uns olhos verdes que vi!
Que, ai de mi!
Nem já sei qual fiquei sendo
Depois que os vi!
Dizei vós: Triste do bardo!
Deixou-se de amor finar!
Viu uns olhos verdes, verdes,
Uns olhos da cor do mar;
Eram verdes sem esp’rança,
Davam amor sem amar!
Dizei-o vós, meus amigos,
Que, ai de mi!
Não pertenço mais à vida
Depois que os vi!


a) para a epígrafe do seu poema, que tipo de poesia camoniana Gonçalves Dias escolheu: a de tradição medieval ou a renascentista? Justifique:
b) de tradição medieval, pois os versos são pentassílabos (redondilha maior);

Observe agora a estrutura formal de “Olhos Verdes”. Que aspectos o associam à tradição poético medieval e popular? Resp.: O emprego de redondilhas maiores, os paralelismos ( há versos que se repetem total ou parcialmente) e a musicalidade.

c) que palavra usada no português arcaico confirma essa filiação? Resp.: A palavra mi que já no século XIX era um arcaísmo.
d) Ao término de cada estrofe alguns versos se repetem como um refrão. Qual o estado do eu-lírico quando viu os olhos verdes? Resp.: O eu-lírico perdeu o senso, ou a própria identidade; enlouqueceu.
e) Com base no verso “Que ai de mi” , que suposição podemos fazer a respeito de como o eu lírico se sente? Resp.: Que o eu lírico se sente infeliz, lamenta a sua condição.
Considerando o modo como o eu lírico se sente, que atitude em relação a ele podemos supor que a mulher amada teve? Resp.: Que ela o rejeitou ou fez pouco caso dos sentimentos dele; daí o sofrimento do eu lírico.

Os românticos rejeitam a visão equilibrada e harmônica da vida que os clássicos tinham e apreciam o emprego dos dualismos. O poema em estudos faz uso dos dualismos para caracterizar a mulher amada:
As antíteses vida/morte; e loucura/amor, por meio das quais o poeta sugere emoções conflituosas que a mulher amada desperta no eu lírico.
a) destaque da 2ª estrofe um dos dualismos que cumprem essa função;
b) outro dualismo se verifica na 4ª estrofe. Introduzindo-a com o verso: “Como se lê no espelho”, o poeta faz um jogo de relações binárias para comparar a mulher amada à natureza: olhos - ondas
alma céus
Com base nessas imagens especulares (de espelho), explique a semelhança entre olhos e ondas e entre almas e céus:
Do mesmo modo que as ondas do mar calmo refletem os céus, os olhos da mulher amada refletem a alma dela. Assim, os olhos (verdes) estão para o mar (ondas) como a alma está para o céu. Logo, os olhos da mulher amada, também sugerem, como os céus, o infinito, a beleza, a serenidade etc.

As duas últimas estrofes apresentam diferenças em relação às anteriores.
a) a quem se dirige o eu lírico? Aos leitores ou aos amigos.
b) Qual é a sua condição, revelada na alteração do refrão “Não pertenço mais a vida”/Depois que os vi”. Por não ser correspondido, o eu lírico sente-se um morto-vivo, alguém que, embora vivo, morreu interiormente.
O ULTRA-ROMANTISMO
Algumas décadas depois do início do Romantismo, o Brasil ganha novos rumos com o aparecimento dos ultra – românticos. Esses poetas, sem o compromisso com a nacionalidade, assumido pela geração, desinteressam-se pela vida político-social e voltam-se para si mesmos, numa atitude profundamente pessimista diante da vida. Como forma de protesto contra o mundo burguês, vivem entediados, esperando a morte chegar. Essa geração sentia-se perdida e inadequada para a sociedade da época. Muitos poetas dessa fase morreram aos vinte anos de idade. Apegavam-se a valores decadentes como a bebida e outros vícios noturnos e a atração pela morte. Álvares de Azevedo. Desprezaram o nacionalismo e o indianismo e acentuaram traços no subjetivismo, o egocentrismo e o sentimentalismo, ampliando a experiência da sondagem interior e preparando o terreno para a investigação psicológica.
O MEDO DE AMAR – as obras apresentam visão dualista que envolve atração e medo, desejo e culpa. Temiam a realização amorosa. Em Álvaro, a antítese personificada – um projeto literário baseado na contradição, perfeitamente enquadrada nos dualismos que caracterizam a linguagem romântica, a face do bem e do mal. A ironia é um traço constante de sua obra, uma forma não passiva de ver a realidade, um modo de quebrar a noção de ordem e abalar as convenções do mundo burguês – o lado Caliban é a linha orgânica e satânica – ao ironizar algumas das atitudes mais caras a sua geração: a pieguice amorosa e a idealização do amor e da mulher. – forte presença do quotidiano.
O erotismo como forma de combate: [ o descompassado amor a carne, o satanismo] [...] representavam atitudes de rebeldia – faziam do sexo uma plataforma de libertação e combate que se articulava à negação das instituições.
Análise do poema IDÉIAS ÍNTIMAS : a) entediado, o eu lírico isola-se em seu quarto, limitando-se a ler e a fumar;
c) bebendo fumando e lendo romances lascivos;
d) tinha sonhos de ser poeta e de ser feliz, em mundos de fantasia habitados pelas grandes amantes da literatura como Margarida, Elvira, Clarissa.
e) Versos que ironicamente destroem a idealização amorosa: “ [ ... eu acordava/ Arquejando a beijar meu travesseiro!”
f) Em contraposição ao mundo degredado e caótico do eu lírico, os pais significavam pureza e serenidade; por isso conservava com carinho o porta-retrato.
g) Momentos de devaneios: os dois primeiros e os três últimos versos da parte XIV revelam consciência por parte do eu lírico. Os versos intermediários sugerem um estado de embriaguez do eu lírico motivado pelo conhaque e pelo tédio do ambiente solitário. Efeito do alcool? Volta-lhe a mente a imagem de uma mulher amada.

Vocabulário romântico:
Imigas: inimigas; mendaces: mentirosas, traiçoeiras; silvos: assobio;
Fugaces: que fogem velozes; ignavos: covardes; talados: devastados, arrazados;
Piagas: pajés; maracás: chocalhos; mi: mim; acerbo: doloroso, árduo; quebrando: cansado, frágil; troço: corpo de tropas; vil: moralmente baixo; deploro: lamento, choro; bardo: poeta trovador; Lamartine: poeta romântico francês;
Blasé: entediado; olvidar: esquecer; libar: beber, sorver; lascivo: sensual; ditoso: feliz; condão: virtude especial, dom; eflúvio: exalação, emanação; silfo: gênio do ar na mitologia céltica; cândido: imaculado, puro; lânguido: abatido, sensual; colo: parte do corpo formada pelo pescoço e pelos ombros; mavioso: suave, harmonioso; intumecer: incha, torna-se túmido; pegureiro: guardador de gado, pastor; messe: colheita; estio: verão; porvir: futuro; flébil: lastimoso, choroso; estro: inspiração, criatividade; fulgura: relampeja, brilha; asinha: depressa; dantesco: relativo as cenas horríveis narradas por Dante Alighiere em sua obra Divina Comédia, na parte em que descreve o inferno; tombadilho: alojamento do navio; luzernas: clarões; açoite: chicote; turbilhão: redemoinho; espectros: fantasmas; vãs: inúteis; arquejar: ofegar; calandra: espécie de cotovia; cambraia: tecido fino de linho ou algodão; espádua: parte posterior do ombro; arminhos: brancuras; balouçar: balançar; alcova: quarto de casal; trescalar: exalar cheiro; alabastrina: cor de alabastro (branca); voluptuosa: sensual; lira: instrumento musical; cavatina: pequena área (peça musical).

A POESIA LÍRICA DE CASTRO ALVES:

Embora a lírica amorosa de Castro Alves ainda contenha um ou outro vestígio de amor platônico e da idealização da mulher, no geral ela representa um avanço decisivo na tradição poética brasileira, por Ter abandonado tanto o amor convencional e abstrato dos clássicos quanto ao amor cheio de culpa dos românticos. Em vez de “virgem pálida”, a mulher de boa parte dos poemas de Castro Alves é um ser corporificado e, mais que isso, participa ativamente do envolvimento amoroso; e o amor é uma experiência viável, capaz de trazer tanto a felicidade e o prazer como a dor. Portanto, o conteúdo de sua lírica é uma espécie de superação da fase adolescente do amor e o início de uma fase adulta, mais natural que aponta para uma subjetividade, pronunciando o Realismo.

BOA NOITE
Boa noite, Maria! Eu vou-me embora. É noite, Pois! Durmamos Julieta!
Rescende a alcova ao trescalar das flores,
A lua nas janelas bate em cheio. Fechemos sobre nós estas cortinas...
Boa noite, Maria! É tarde... é tarde... __ São as asas dos arcanjos dos amores.
Não me apertes assim contra teu seio.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Boa noite!... E tu dizes__ Boa noite, Lambe voluptuosa os teus contornos...
Mas não mo digas assim por entre beijos... Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Mas não mo digas descobrindo o peito, Ao doudo afago de meus lábios mornos.
__ Mar de amor onde vagam meus desejos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Julieta do céu! Ouve... a calandra Treme tua alma como a lira ao vento,
Já rumoreja o canto da matina. Das teclas de teu seio que harmonias,
Tu dizes que eu menti? ... Pois foi mentira... Que escala de suspiros, belo atento!
...Quem cantou foi teu hálito, divina!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Se a estrela d”alva os derradeiros raios Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Derrama nos jardins de Capuleto, Marion! Marion!... é noite ainda.
Eu direi me esquecendo d”alvorada; Que importa os rais de uma nova aurora?!...
“ É noite ainda em teu cabelo preto...”
É noite ainda! Brilha na cambraia Como um negro e sombrio firmamento,
_ Desmanchando o roupão, a espádua nua__ Sobre mim desenrola teu cabelo...
O globo de teu peito entre os arminhos E deixa-me dormir balbuciando:
Como entre as neves se balouça a lua... --- Boa noite! Formosa Consuelo!...
Análise: a)em relação ao coito amoroso presente no texto a mulher amada tem uma reação quando o amante diz que vai embora. Ela aperta o amante ao seio, afim de amá-lo retendo-o por mais tempo;
c) Há uma reação por parte dessa mulher que difere das outras da 1ª e 2ª geração romântica: nas gerações anteriores a mulher tinha a postura mais passiva ou distante em relação ao seu homem. Nesse poema ao contrário, a mulher é participante do momento do amor;
d) Da 5ª estrofe em diante o amor pega fogo: “Desmancha o roupão, a espádua nua” e “Globo do teu peito”. Havia o desejo de nova doação;
e) Já na 5ª, 6ª e 7ª estrofe podemos observar e destacar a percepção sensorial do eu lírico através da visão, audição, tato, olfato e paladar: na 5ª estrofe predomina a visão, na 6ª o olfato e na 7ª o tato;
f) Já na 9ª estrofe o coito se concretiza, um extase ( “subir nas nuvens”) sugerido pela palavra delírio. Há uma embriaguez amorosa onde se destacam as sensações e é aí que a cena deveria ser paralisada para satisfazer a verdade sobre o romantismo, a felicidade eterna enquanto o mundo girava lá fora, bem longe dos amantes. Veja a confirmação:
Ri, suspira, soluça, anseia e chora.”
O instante de gozo:
“É noite ainda! Que importa os raios de uma nova aurora?!...”
g) Com relação ao emprego da expressão Boa noite na 1ª e na última estrofe há uma alteração de sentido de uma estrofe para outra. Observe: na 1ª estrofe, a expressão tinha o sentido de despedida; na última, como o eu lírico vai continuar com a mulher amada, o verso revela o desejo de que ela, como ele, tenha uma boa noite de amor;
h) No decorrer do poema o eu lírico chama a mulher amada de diferentes nomes: Maria, Julieta, Marion e Consuelo e todas são personagens de Histórias de um grande amor de escritores europeus. Qual a finalidade de tanta multiplicidade?
Resposta: São várias as interpretações que podemos fazer e uma delas é o desejo de universalizar a mulher e o amor; portanto, no poema não é apenas a sua amada, mas as características de uma mulher-amante. Uma síntese da mulher universal.

Sengundo ANTONIO CÂNDIDO (Formação da Literatura Brasileira vol 2, l918), “Destacando o problema do gosto... certos gelo nos permite suspender a emoção ainda que por lampejos[...] e destacar alguns aspectos negativos na obra castroalvina”:
_ “como o sabes?...” “cconfessas?..._ “Sim, confesso...”[...]

refere-se ao abuso do aposto, de exemplos “semibestialógicos, quando a vertigem oral e a necessidade de rimas não tem a sorte de encontrar solução imediata de beleza”.

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