sexta-feira, 13 de maio de 2011

Antero de Quental - Por Gelza Reis Cristo




O ESTUDO ANALÍTICO DOS POEMAS:

A UM CRUCIFÍXO

Há mil anos, bom Cristo, ergueste os magros braços
E clamaste da cruz: há Deus! E olhaste ó crente,
O horizonte futuro e vistes , em tua mente
Um alvor ideal banhar esses espaços!

Por que morreu sem eco o eco de teus passos,
E de tua palavra (ó verbo!) o som fremente?
Morrestes...ah! Dorme em paz! Não voltas, que descrente
Arrojaras de novo à campa os membros laços...
Agora, como então , na mesma terra erma, A mesma humanidade é sempre a mesma enferma, Sobre o mesmo ermo céu, frio como um sudário...
E agora, como então viras ao mundo exangue,
E ouviras perguntar - de que serviu o sangue
Com que regaste ó Cristo, as urzes do Calvário?


(LENDO, PASSADOS 12 ANOS, O SONETO DA PARTE 1ª QUE TEM O MESMO TÍTULO)




Não se perdeu teu sangue generoso,
Nem padeceste em vão, quem quer que foste,
Plebeu antigo, que amarrado ao poste
Morreste como vil e faccioso.

Desse sangue maldito e ignominioso
Surgiu armada uma invencível hoste...
Paz aos homens e guerras aos deuses! __pôs-te
Em vão sobre um altar o vulgo ocioso...

Do pobre que protesta foste a imagem:
Um povo em ti começa um homem novo:
De ti data essa trágica linhagem.
Por isso, nós, a plebe, ao pensar nisto,
Lembraremos herdeiros desse povo,
Que entre nossos avós se conta Cristo


(ANTERO DE QUENTAL).
A forte religiosidade de Antero está presente nos dois sonetos que serão analisados a seguir. O inconformismo leva-o a uma forma lírica por excelência com um desejo de mudança que aflora o eu lírico do poeta olhando o mundo como um infinito a ser explorado pelo homem que tem uma necessidade de mudar e sabe que só mudando a mentalidade de um povo é que se conquista as ações. Sendo um ser completo e em constante mutação; veremos os paradoxos estabelecidos pelo pensamento do poeta vendo o Cristo como a LUZ da humanidade.

A UM CRUCIFÍXO I

1ª estrofe: durante muitas gerações Cristo foi o guia da humanidade, por ela sofreu e foi crucificado. Clamou por Deus porque via um clarão no horizonte futuro do seu povo.
2ª estrofe: o eu lírico do poeta já observava um vazio no sacrifício de Cristo e quando diz ó verbo! Vê Nele muitas ações e pede que Ele não volte porque o povo descrente arremessaram na campa os laços, ou seja; a fé que os moviam.
3ª estrofe: não vendo mudanças no povo; tudo fora em vão e a humanidade continuava acomodada sob um céu desabitado do Cristo que representava o fim das angustias através da fé. Não havendo um Cristo, o povo tinha apenas um céu desabitado.
4ª estrofe: exausto, pessimista, o eu lírico vê todo o sacrifício de Cristo em vão e indaga ao povo para que serviu o sangue derramado nas raízes do sofrimento da peregrinação de Cristo.



A UM CRUCIFIXO II (SEGUNDA PARTE).


1ª ESTROFE: o eu lírico reconhece o valor da passagem de Cristo quando diz que nem padeceste em vão quem quer que foste e duvidando da sua fé na existência de Cristo mencionou que Ele morreu desprezado e revoltado.

2ª estrofe: deprimido, o poeta culpa a Cristo pelo fanatismo religioso do povo português quando diz desse sangue maldito e ignominioso . Vê a nobreza como inimigos e declara guerra a esses deuses e paz aos homens capazes de mudanças.

3ª estrofe: há uma oscilação entre o místico e o racional e passa a pensar no surgimento de um novo homem vindo da plebe como semelhança de Cristo; ou seja, alguns já pensam em mudanças.

4ª estrofe: Cristo em igualdade com a plebe, herdeiros de uma fé inabalável pela tradição. O poeta critica no sentido religioso; mas continua querendo mudar a mentalidade do seu povo.

COMPARAÇÃO: no primeiro poema o eu lírico mostra um pessimismo e não vê uma saída para as mudanças desejadas nem mesmo através de Cristo que era o modelo do povo religioso. No segundo poema, apesar de dividido, ao perceber que a sociedade conservadora dominava, passou a ver uma saída na plebe.

CONTRIBUIÇÃO DE ANTERO DE QUENTAL PARA A LITERATURA E PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO DE LETRAS.

Antero contribuiu para o engrandecimento da “ LITERATURA PORTUGUESA” que através da “Questão Coimbrã” formou-se um confronto literário entre ele e Castilho. Preocupado com as questões sociais não como cultura local; mas com uma visão voltada para outros movimentos em andamento na Alemanha, França e Espanha, sobretudo aliado ao pensamento de Hegel e Hartmann. Foi contra os hábitos mentais do povo português: passivos, acríticos, improdutivos, acriativos, em oposição, aliás, aos momentos progressivos de Portugal.
(Joaquim Matos, p. 1).

Como formação para o aluno de Letras, Antero elaborou a primeira teoria do moderno realismo português, aprofundou a filosofia da história portuguesa, deu um novo sentido a luz das melhores esperanças européias- 1869-74 e fez a melhor crítica nacional ao positivismo do século XIX que se tornou corrente dominante da nossa opinião filosófica.
(História da Literatura Portuguesa –926).

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