terça-feira, 17 de maio de 2011

Crônica - Quando o homem de paletó chorou

Autora: Gelza Reis Cristo


Envergonhado retirou o paletó e virou o punho da manga de camisa. Depois desceu levemente o corpo ficando de cócoras. Abafou o rosto com as mãos, e usou o paletó como lenço. A moça embaraçada já sentia dó daquele homenzarrão com gestos de criança perdida. Ia tentar levantá-lo quando a porta do elevador abrira. Meia dúzia de curiosos esticavam o pescoço para saber quem ficara preso no elevador. Sei lá por quanto tempo...
Dispersaram cada um para o seu destino. Ele permaneceu pensativo e cabisbaixo.
“Onde está a sua mãe?”. Perguntou ao seu filho mais velho.
“Foi para o hospital porque se queimou na cozinha”. Como? Gritou o pai.
“Estava fazendo aquela carne-de-panela que o senhor diz somente ela saber fazer”. “Ela disse que estava cansada” __ retrucou o menino.
“Maldita panela ou maldito sou eu?”. “Apesar de termos uma empregada fico exigindo mimos quando sei que nem mereço, sou um covarde” __ quando seguia para o hospital já tinha um bom motivo para chorar, mas não chorou.
Na maca estava Rosa sua mulher e com seu rosto lindo que graças a Deus escapara do acidente. Seus cabelos lindos da cor de caju que já não eram mais naturais. Todavia toda a agressão causada pelo acidente fora no seu pescoço que jamais ostentaria as jóias que ele lhe dera e quê dizer das suas belas mãos agora enfaixadas. Por todo o colo havia pomada protegendo as bolhas molhadas de lágrimas da dor, decepção, mágoa e desamor. Estas desciam de seus olhos que eram a essência da angustia fixados no marido que se mantinha calado e muito pesado. Enfim o homem falou:
“Perdoe-me querida, peça já o que mais deseja da vida e não terás somente a minha palavra. Mas um pouco mais de atenção”. Curvou-se sem chorar. Beijou-a nas faces.
“Eu quero a minha alma de volta, a minha arte de pintar, o meu mundo colorido que você tirou de mim por ciúmes” __ Afirmou num soluço que os seus quadros eram a sua alma.
“Maldito elevador que me fez chorar!”. “ O quê?” __ Nada. Disse ele sorrindo.

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