quarta-feira, 28 de novembro de 2012

ADUSTINA NA LITERATURA DE CORDEL




 Imagem 1 Feira de Adustina e Imagem 2 praça Alice Virgens Vidal

ADUSTINA NA LITERATURA DE CORDEL

IVONE GONÇALVES

Agora neste momento
Uma história vou contar
É a história de Adustina
Que na lembrança vai ficar.

Este nome de Adustina
Quem botou foi um Abreu
Foi o maior professor
É pena que já morresse.

Começou com uma feita
Que se fazia nas baraúnas
O grão coberto de lona
Pra ver se tinha fortuna.

Nesta feira tinha coisas
Que agora vou contar:
Tinha carne e inhame
Que são bons pra cozinhar.

Os primeiros habitantes
Eram raros pra se contar
Era a família dos Barros
Que habitavam no lugar.

Não esquecendo também
A família dos Vieiras
Era no terreno deles
Que se fazia a feira.

A escola neste tempo
Ficava na rua da igreja
Aonde os alunos todos iam
Aprender algumas letras.

A primeira professora
Foi Maria de Ovídio
Todos gostavam dela
Por algumas letras aprendidas.

O primeiro automóvel
Foi o de João Pimentel
Que vivia pra cima e pra baixo
Pra ganhar quinhentos reis.

Este carro foi malvado
E não durou muito tempo
Logo, logo virou.
Foi o carro de Jonas Nunes
Que a ninguém atropelou.

A água em Adustina
Era rara pra valer
Todos tinham que buscar
No Vasa-Barril pra beber.

Esta água também servia
Pra banhar e pra beber
No verão sempre ocorria
O povo tinha que buscar.

Neste lugar tão pequeno
Não havia nenhum médico
Se Deus não tivesse piedade
Todos já, pro cemitério.

Os remédios antigamente
Todos eram bem caseiros
Entre eles vou citar
Erva-doce e cajueiro.

Em Adustina também tem
Muitas pessoas folclóricas
Antônio Barros, alguns veem
Como nosso vulto histórico.

José Ribeiro o brasileiro
O conhecido Revoltoso
Além de ser sertanejo
Era um policial famoso.

Antônio Ramos, todos sabem
Acoitava o Lampião
Por ser rico e importante
Defendia Adustina da maldição.

Naquele tempo a polícia
Perseguia Lampião
Turma muito malvada
Eram os reis da maldição.

Aqui em Adustina
Todos, a eles temiam
Mas para quê tanto medo
Se a polícia defendia.



Homenagem aos professores de Adustina

César G. Andrade

Há uma pessoa
Humilde e trabalhador
Que todos nós
Devemos dar valor.

Esta pessoa
Só trás paz e amor
Esta pessoa
É o nosso professor.

Esta pessoa
Que tanto se esforça por nós
Receba esta pequena homenagem
Que fiz para vós.

Para ser um professor
Tem que ser capacitado
Deve ser estudioso
Desde a sua mocidade.

Todo professor
Tem função especial
Pra ensinar o aluno
A educação moral.

Existem ainda os problemas
Que o professor enfrenta
Aqueles problemas
Que cada aluno apresenta.

Quando o professor vai corrigir
Um teste mal resolvido
Ele tem dificuldade
Pra corrigir o teste desordenado.

Há um outro problema
Que o professor deve sentir
É quando o seu aluno
Sua aula não quer assistir.

Ser um professor
É um trabalho difícil
Pra se chegar lá
Tem que haver sacrifício.

Cada aluno na sala de aula
Deve bem se comportar
Para que seu professor
Não venha se maltratar.

Quando o aluno
A ele não dar nenhum valor
Este aluno ainda não sebe
O que é ser um professor.

O professor deve ser louvado
E bem valorizado
O seu ensino abençoado
Pois ensina o pai e o filho amado.

A todos os professores
Do nosso querido Brasil
Recebam o meu abraço
Deste aluno gentil.

A CASA

César G. Andrade

Existe uma coisa
Que todos devem dar valor
Porque é através dela
Que muitos fazem amor.

Hoje ela pode não ser nada
Amanhã ela será tudo no mundo
Pois sem ela
Muitos podem ser vagabundos.

Muitos já as têm
Mas não sabem dar valor
Tantos outros querem ter
E não passam de sonhador.

Ela é útil a todos nós
Mas não é bondosa
Nem espirituosa
Pra quem a destroi.

Ela pode ser pequena
Ela pode ser grande
É de muito valor
E a todos abrange.

Ela é um abrigo
Ela é uma pousada
Livre de chuva e vento
E também da trovoada.

Ela é uma amiga
Ela é uma morada
Ela não é mais
Do que uma casa.

A nossa casa
A casa dos outros
A casa de todos
Sabem dar gosto.

Deveria haver uma lei
Pra todos os Presidentes
Darem uma casa
Para àqueles mais carentes.

Aqueles que são pobres
Aqueles que não têm nada
Aqueles que nunca conseguem
Possuir uma casa.

A CANTAREIRA

CÉSAR G. ANDRADE

Todos jogando
O ponta lançando
A bola rolando
E a torcida apoiando.

O CANTAREIRA é isso
Todos torcendo
E o adversário
Sempre temendo

Todos são jovens
Mas entendem de bola
Os adversários reconhecem
E vão dando o fora.

Todos são companheiros
E jogam por um ideal
Ganhar mais um jogo
De forma legal.

CANTAREIRA é o time
Que joga no frio ou calor
É o time que sempre
Eletriza o espectador.

O CANTAREIRA
Joga com muita habilidade
Joga com toda calma
E vence com facilidade.

CANTAREIRA é meu time
Timão pra valer
E não é à toa
Que também podemos perder

Por este time
Todos têm amor
Pois jogamos neste time
E não guardamos rancor.

Vamos conhecer meu time
E quem faz o CANTAREIRA
Começo pelo goleiro
Que nunca fez besteira.

Nosso lateral é forte
Igualmente um touro
O adversário tenta passar
Mas termina no choro.

O Meio de Campo
Não tem nada igual
E todos correm
Pelo mesmo ideal.

Os Ponteiros jogam
Com todo equilíbrio
E escutam da torcida
O grito do delírio.

O CANTAREIRA
Venceu e vencerá
Não há time nesta região
Que não possamos ganhar.

No clarão
Como na escuridão
O CANTAREIRA
Será sempre o campeão.

Escolha um time
E comece a torcer
Mas escolha o CANTAREIRA
Que não costuma perder.





















terça-feira, 27 de novembro de 2012

FLORBELA ESPANCA



FLORBELA ESPANCA
 Análise Acadêmica por Gelza Reis Cristo
Comentário: escrever um poema é como fazer uma massa: a inspiração vem primeiro.


Confrontam-se aqui duas obras, duas poesias do mesmo título, de Florbela  Espanca.  As poesias, com o mesmo título: “EU”. Neste trabalho podemos estabelecer uma comparação entre os dois momentos do eu-lírico quando tenta buscar uma definição para si próprio, utiliza-se dos recursos da arte literária para formar a imagem de si mesmo. A poetisa busca através da arte construir uma definição do “eu” em marcas profundas, numa indefinição onde estabelece um conceito onde tenta encontrar a auto-definição por definição. “Sai a que no mundo anda perdida”. O pronome demonstrativo a (aquela), é usado para mostrar e denunciar ou definir algo. Qual a definição procurada e questionada?
Como a arte é valiosa, poucos vêm e poucos notam, ela se encontra em todas as direções, ora como sonho, ora sofrida e mal amada, ora nunca vista: morta. Todos passam e a cegueira não permite a visão do belo que parece triste e da dor não compreendida.                                                                                                                         Numa Segunda leitura podemos perceber nos versos de Florbela certo grau de distanciamento: o que, aquela que. Mas, quem é aquela quê?  Um eu-lírico que generaliza aquilo que se diz dele mesmo e alguma vez indetermina o que se diz. Por vezes se distância o “eu” do “eu” um sendo a essência e outro a mente. Há um confronto de valor e perdição, ora existe, ora não se sente. Por vezes sonha, por vezes sofre. Escuridão, incertezas, nuvem que passa sem ser notada e que se dissipou sem ser vista ou notada. Mostra um “eu” latente que... No "mundo anda perdida” e em outro tempo diz que é um “eu” que não tem norte, sem direção e sem objetivo.

                                               EU...

                        Eu sou a que no mundo anda perdida,
                        Eu sou a que na vida não tem norte,
                        Sou a irmã do sonho, e desta sorte.
                        Sou a crucificada... a dolorida...

                        Sombra de névoa tênue e esvaecida,
                        E que o destino amargo, triste e forte,
                        Impele brutalmente para a morte!
                        Alma de luto sempre incompreendida!...

                        Sou aquela que passa e ninguém vê...
                        Sou a que chamam triste sem o ser...
                        Sou a que chora sem saber por quê...

                        Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
                        Alguém que veio ao mundo pra me ver,
                        E que nunca na vida me encontrou!

                                               X

                                               EU

                        Até agora eu não me conhecia,
                        Julgava que era Eu e eu não era
                        Aquela que em meus versos descrevera
                        Tão clara como a fonte e como o dia

                        Mas que eu não era Eu não sabia
                        E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
                        Olhos fitos em rútila quimera
                        Andava atrás de mim... e não me via!

                        Andava a procurar-me __ pobre louca! __
                        E achei o meu olhar no teu olhar,
                        E a minha boca sobre tua boca!

                        E esta ânsia de viver que nada acalma,
                        É a chama da tua alma a esbrasear
                        As apagadas cinzas da minha alma!
                                                                                                    
No segundo poema, acontece o confronto do “eu” que não se encontrava e não era visto, com o “eu” real com a alma em chamas. O passado estava sendo observado como uma sombra de loucura que passara e dava espaço para o ver e o sentir. O “eu-lírico” se apresentava como um espelho afogueando a sua alma que queria viver e apagar as nevoa do passado dando espaços para as suas qualidades, mostrando-se um ser que tem sentimentos e é capaz de ver a vida como o bem mais precioso. O passado passou a ser algo questionável dentro dos novos valores. A razão do “penso, logo existo” foi notada no brilho do olhar pelo olhar e na visão do passado apenas como cinzas que se dissiparam nas nuvens do passado.

                        Como síntese, o primeiro poema é a morte a passar pela vida, e o Segunda como sendo a vida ressucitando um “EU” que no passado havia morrido. Nascia uma luz de entendimento entre o “Eu” mais o eu-lírico onde a vida (com sonhos e ilusões) vencia a morte vista como cinzas do passado.
“-... rútila quimera”. Mesmo que se conhecesse ainda tinha sonhos e ilusões. Na
poesia II o sentido do vazio foi achado e houve a necessidade de completar-se um ao outro: “até agora eu não me conhecia”. Buscando a arte como refugio.                

Osvaldo Névola Filho poeta brasileiro




MORRE OSVALDO NÉVOLA FILHO, A LUZ QUE ILUMINAVA A CULTURA DE SÃO VICENTE

Transcrição: Jornal Vicentino
Falecimento em 15 de setembro de 2003


OSVALDO NÉVOLA FILHO

O último trabalho do Professor Osvaldo, poeta e estrela da mais bela grandeza, pode ser visto no Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente (Casa do Barão), onde uniu sua poesia com fotos de Gilberto Grecco

A Educação de São Vicente está mais pobre. A cultura vicentina perdeu seu maior expoente, sua estrela mais brilhante que agora ilumina o céu com suas poesias, arte e cultura sólida, que passeava com muita desenvoltura em todos os campos, da literatura ao cinema, do teatro à música e ás artes plásticas, ou seja, passava e encantava a todos com uma sabedoria e conhecimento por todas as manifestações culturais desta Nação miscigenada, por isso mesmo tão rica racial e culturalmente, chamada Brasil.
São Vicente, São Paulo, Brasil e o mundo perdeu o educador e poeta Osvaldo Névola Filho, que faleceu na segunda-feira, 15/09.

SV – Se a arte e a poesia delicada e sensível de Osvaldo Névola Filho não teve o reconhecimento que merecia em São Vicente e Baixada Santista, a quem dedicou toda uma vida à cultura e ensinando, educando, informando e formando cidadãos, o trabalho de Osvaldo Névola Filho é imortal. As poesias e produções de Osvaldo Névola Filho são conhecidas e premiadas em todo o Brasil e em várias partes do mundo. É uma obra que fica para sempre e que, na certa, irá encantar e ainda merecer o respeito e o reconhecimento das futuras gerações.

POETA – Sem ter tido em vida as homenagens e o apoio que lhe era de direito em São Vicente, Osvaldo Névola Filho, que nunca escondeu sua mágoa com a falta de consideração do poder público local, dedicou seu tempo e amor à arte para a Casa do Poeta E Casa da Cultura, que eram suas maiores paixões.

JV – No JV, Osvaldo Névola Filho durante muito tempo manteve uma coluna em que falava de arte, de cultura e divulgava todas as manifestações artísticas e culturais da cidade, da região, de São Paulo, Brasil e do mundo. Para o professor Osvaldo, arte e cultura não tinham fronteiras ou barreiras e nem preconceitos.

CONSAGRADO
Poeta consagrado e festejado pelos meios culturais de todo o Brasil e com prêmios internacionais, Osvaldo Névola, que possuía a cultura erudita misturada com a popular, no ano 200, quando o Brasil completou 500 anos do descobrimento, compôs com seu sobrinho, Luiz Cláudio, um dos mais belos sambas enredos que se tem notícia para o Carnaval do Rio de Janeiro. O samba do professor Osvaldo e Luiz Cláudio venceu as eliminatórias feitas em São Vicente e chegou quase a final da escolha do samba enredo da Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis, Rio. Acabou injustamente desclassificada, mas até hoje ninguém esquece dos belos versos do professor Osvaldo colocados num samba enredo que mereceu elogios até de Leci Brandão, uma das maiores conhecedoras do carnaval carioca.


EDUCADOR – Como educador, professor Osvaldo dedicou quase toda vida a Rede Municipal de Ensino de São Vicente, tendo se aposentado da Prefeitura há pouco tempo. Diretor da Escola Municipal Raquel de Castro Ferreira, uma das mais tradicionais de São Vicente, Osvaldo Névola Filho revolucionou a arte de educar, de passar conhecimento, recebendo apoio e reconhecimento de professores, estudantes e pais. Para Osvaldo Névola Filho escola não era só para ensinar, mas também para formar cidadãos.

DEDICAÇÃO – A dedicação de Osvaldo Névola Filho na Direção da Escola Municipal Raquel de Castro Ferreira era tanta, que em fins de semana lá estava ele, com um martelo, uma pá de cimento ou um rolo de tinta pintando e realizando reparos e outras obras com as próprias mãos. A escola era uma extensão de sua casa, os alunos uma extensão da sua própria família.

ESTADUAL – A fama de educador de Osvaldo Névola Filho rompeu fronteiras das escolas municipais e seu nome acabou denominando uma biblioteca na EE Ênio Vilas Boas, no jardim Pompeba, em São Vicente, fato que trouxe muito orgulho ao professor em seus últimos meses de vida.

SIMPATIA – Com sua simpatia, educação ímpar e jeito carinhoso de se dirigir e tratar as pessoas, Osvaldo Névola Filho sempre conquistou amigos. Quando chegava à sede do JV para entregar sua coluna sobre cultura, o professor Osvaldo iluminava o ambiente com sua sabedoria e jeito humilde de ser. Tratava a todos de forma igual, com respeito e consideração, sem jamais ter levantado na vida seu tom de voz aveludado que soava como música para os ouvidos que o escutavam.

JAPÃO – Tendo viajado por vários países do mundo, Osvaldo Névola Filho tinha um amor todo especial pelo Japão, pela cultura milenar e culinária da Terra do Sol Nascente, que conheceu quando participou do convênio de Cidades Irmãs de São Vicente com Naha, situada na ilha de Okinawa. Na verdade o amor de Osvaldo Névola Filho e sua grande paixão foi a cultura, com quem se casou por toda a vida e jamais a abandonou desde quando deu os primeiros passos no mundo mágico da arte participando do TEMA-Teatro Estadual Martim Afonso -, grupo teatral que surgiu na mais tradicional escola de São Vicente, o Martim Afonso, ainda no tempo de estudante.

VAZIO – A morte de Osvaldo Névola Filho irá deixar um vazio imenso no coração de seus amigos, familiares, companheiros do mundo artísticos e, sobretudo na cultura vicentina e da Baixada Santista, que perde o renomado poeta da geração mais recente. A esperança é que seu exemplo, seja seguido, que a semente que plantou dê belos frutos, posto que Osvaldo Névola Filho é imortal e sua obra ficará para sempre para que gerações e gerações possam se deliciar com a sensibilidade e a maneira como o professor transformava cada palavra, cada verso, numa obra prima de arte que mexe com o imaginário e com a emoção que muitas vezes vive adormecida no coração das pessoas.

ADEUS – Nesse momento de dor e perda, cuja ferida se transformará numa doce saudade, mas jamais irá ser cicatrizada, toda a família JV que leve o privilégio de conviver com o professor Osvaldo Névola Filho: seu diretor-presidente  Ricardo Rocha (Rochinha) e esposa Neide; e o vereador Roberto Rocha, enviam as mais sinceras condolências à família do professor e poeta que por ser imortal, não morreu, apenas para um estágio superior nesse universo, pois era um espírito iluminado e muito superior.
            Adeus, professor Osvaldo Névola Filho, que a essa altura deve estar, com certeza, fazendo poesia para os anjos no céu . Descanse em paz ‘poetinha’, pois como você gostava de citar Guimarães Rosa, é bom lembrar o que o escritor mineiro disse na boca de um dos seus famosos personagens que:
__ pessoas boas não morrem, elas ficam encantadas. [...]


Agradecimento de Gelza Reis Cristo

Obrigada pelo carinho, pela herança cultural, por ter elevado o meu trabalho poético nesse jornal tão popular que fez essa homenagem merecida ao professor poeta e Diretor da EE Municipal Raquel de Castro Ferreira. Perdemos um companheiro das noites poéticas e dos eventos culturais de São Vicente e região. Descanse em paz!

terça-feira, 9 de outubro de 2012

PRODUTOS DIET E LIGHT




 Pão de batata da Gelza
 empadinhas da Gelza
 Bolo Diet da Gelza
 A Cozinheira Nômade preço especial com a autora

Do jornal METRÓPOLE POR Carol Avelar

TRANSCRIÇÃO:

Setor continua com crescimento do consumo e já representa 5% do mercado formal de alimentos

Apesar de conhecidos os produtos Diet e light ainda causam confusão na cabeça das pessoas. Mas na realidade o que é diet e o que é light?
O alimento light tem a redução das calorias, ou do conteúdo de algum componente, como açúcar, sódio, gordura em pelo menos 25%, quando comparado ao produto em sua apresentação normal, segundo a definição da cartilha da ABIAD (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para fins especiais e congêneres). A endocrinologista Maraci Bertini Alencar, explica que o diet não necessariamente terá menos calorias, mas sim, terá restrição de algum ingrediente para atender dietas especiais como o açúcar, no caso do diabético. “Alguns diet podem não conter colesterol. A pessoa deve estar sempre atenta aos rótulos, para saber, de acordo com a sua patologia, o que pode ou não ingerir.”
A médica ressalta que se a pessoa quer controlar o valor calórico, o ideal é o light. “Deve-se saber que o bom senso é sempre bem vindo. A atenção deve se concentrar na quantidade, não adianta comer um pote de sorvete só porque o produto é light. Agindo assim não valerá a pena.”
Em relação ao consumo desses alimentos por crianças, a endocrinologista explica que muitas pessoas alegam que o crescimento fica comprometido, no entanto, existem casos de que o uso desses produtos é necessário.
“Se a criança, por exemplo, tem colesterol alto, é mais interessante que ela coma um alimento com adoçante, do que deixa-la evoluir para um diabetes.”
O presidente da ABIAD, Carlos Eduardo Gouvêa informa que este é um dos setores que mais cresce. “O consumidor está se conscientizando sobre a importância da nutrição e da melhoria da qualidade de vida.”
“O cliente precisa ter a informação correta e o rótulo do alimento deve ser de fácil interpretação”. Existe uma preocupação das indústrias e da própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em levar essas informações as pessoas.
Segundo ele uma pesquisa feita pelo Latim Panel, constatou que o supermercado que possui uma gôndola especial de diet e light tem seu faturamento médio 11% superior.
O setor de diets e lights representa 5% do mercado de alimentos. “Dados de 2005 informam que o faturamento do setor foi de USS 4,3 bilhões, estimativa que envolve varejo e restaurantes”, afirma Gouvêa. Ele ressalta que o mercado deve crescer mais cerca de 20% , em 2006 e 2007, depois deve desacelerar por causa dos alimentos funcionais.
A Abied, com o apoio da Anvisa, da Associação Paulista de Supermercados e do inmetro, lançou uma cartilha com informações básicas sobre esses alimentos. A cartilha está disponível no site www.abiad.org.br e em alguns supermercados que tivessem interesse em adquiri-la.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Culinária por imagens por Gelza Reis Cristo

 Frango sem pele temperado com sal + alho + coloral + pimentão vermelho sem pele + alecrin + louro em pó + vinagre de maçã
 Acomodar frango na grelha + assar por 15 minutos +-
 peito de frango à milanesa +congelar porção individual ou grupo
Molho avinagrete: receita no livro A Cozinheira Nômade + barato com a autora
Salada: rúcula + chuchu cozido + palmito + cenoura + azeitona + molho a gosto

Farofa especial: ver esta + 143 no livro A Cozinheira Nômade em ofertão com a autora por e mail cristogelza@gmail.com



Bolo especial de aniversário: pão-de-ló nota dez no A Cozinheira Nômade da mesma autora + recheio de geléia de amora + doce de leite + amendoas trituradas + cobertura de leite condensado + creme de leite

Filé de Pescada prático

Escolher peixe fresco + temperar com sal + suco de limão + coentro + alecrin moído + louro em pó + alho
Passar o filé em ovos + farinha de rosca + embrulhar no alumínio + guardar no freezer  por Gelza Reis Cristo

domingo, 7 de outubro de 2012

Culinária por imagens + a farofa por Gelza Reis Cristo

 1º PASSO: 200 g de bacon defumado picado + meia xícara de azeite + fritar
 2º passo: três cenouras + 1 pimentão vermelho + 3 dentes de alho + fritar
 3º passo: mais 3 cebolas grandes + sal a gosto + fritar
 4º passo: mais uma lata de ervilha escorrida + cheiro verde + 3 ovos cozidos picados
 5º passo: provar do sal a gosto + fritar
6º passo: mais uma porção de farinha + misturar + deixar úmida + resultado final

CARNE ASSADA DE PANELA - GASTRONOMIA











CARNE ASSA DE PANELA

2kg de coxão duro +200g de toucinho defumado+uma cebola pequena (branca ou roxa) + 3 dentes de alho + 3 folhas de louro+ uma colher de chá de cominho (opcional) + uma pitada de pimente do reino (opcinal) + metade de um pimentão + 2 colheres de chá de coloral + 1 colher de sobremesa de sal + 100g de toucinho defumado (para mais e para menos) + meia xícara de óleo para fritar.

Observação: para cada região ou país adota-se determinado tipo de tempero, por isso apresento o tempero normalmente usado na cozinha brasileira.

MODO DE FAZER
Esta receita fica mais saborosa na panela de ferro. Mas caso não tenha pode ser na panela de pressão porque não é necessário tamanha quantidade.

Lave bem a carne e faça pequenos furos. Em seguida corte os temperos e misture-os bem para depois temperar a carne. Pode ser de véspera.

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alcoolismo - Vício devastador








Antes de abordar a reportagem a qual é a razão dessa divulgação vou deixar nestas páginas o meu depoimento pessoal. Na década de 70 quando eu era muito jovem percebia como o alcoolismo era visto no Nordeste do Brasil, em especial no “polígono da seca” onde vivi por 20 anos.

O homem nordestino que se excedia na bebida era visto como um cabra safado. Para a sociedade dele o sujeito bebia porque não conseguia se controlar e queria chamar a atenção; principalmente da família, ou seja, era um infeliz por vontade própria. Mas quando me tornei uma leitora e fui para a cidade grande percebi que o alcoolismo era visto como uma doença e também como uma droga igual às outras que causam mal a saúde, ao bolso e a família.

Talvez o meu marido nunca saiba desse depoimento porque ele nunca lê o que eu escrevo. Quando me casei em 1980 ainda não conhecia os hábitos do meu noivo nem tampouco da sua personalidade, porque estava muito apaixonada e só, completamente só para refletir sobre quem era o homem que me ganhara pelo resto da minha vida. Quem eu era afinal? Uma jovem nordestina que só conhecera sofrimento e seca. Famílias numerosas, carentes de carinho, pais que jogavam os filhos no mundo porque precisavam transar e as mulheres não tomavam o anticoncepcional simplesmente porque a pílula ainda não chegara. Tenho dez irmãos e nunca vira o meu pai fazer um carinho num filho. A imagem que guardo dele é de um homem muito sério e furioso às vezes. Fomos educados com valores de honestidade, não matar, não roubar, não desejar as coisas alheias e nunca responder aos mais velhos. Tudo isso aprendemos na igreja católica na qual a nossa mãe nos levava toda semana ou a cada mês uma vez que para isso deveríamos andar dezoito quilômetros a pé. Mas será que faltar somente o carinho faz a diferença? Certamente, porque o toque estimula a sensibilidade e destrói a frieza.

O meu casamento começou de forma errada, mas como o amor supera obstáculos sobrevivi até superar a dor. E hoje me sinto a vontade para falar sobre isso. Nunca bebi, nunca fumei, nunca cai numa farra e de repente o meu marido ficava bêbado de vomitar e causar vexame. Com três crianças era normal irmos a festinhas de aniversário e também fazíamos as nossas todo ano por três vezes. Quando os convidados chegavam ele já tinha bebido o dia inteiro para recebê-los. Depois ficava pelos cantos e me perseguindo aonde eu ia que normalmente era para a cozinha. As festas sempre foram muito rápidas e quem demorasse chegava na hora de apagar a velinha. E eu tinha que fazer todos os papéis: mulher feliz, mãe carinhosa, empregada da casa e nora exemplar. Morei com a minha sogra durante 25 anos. Os convidados ficavam ocupados comendo os deliciosos quitutes que eu mesma fabricava. Recebia muitos elogios e ninguém percebia o grau do meu sofrimento, pois morria de vergonha que uma amiga percebesse que ele já estava tomado pelo álcool. Quando a festa terminava ele vomitava no tapete e acordava de mau humor. O meu casamento sempre fora recheado de discussões. Sou teimosa e sei o que desejo para mim. No entanto a causa de tanto sofrimento tem a sua raiz nos valores que ganhamos dos nossos pais.

Esta série de depoimentos que li por tantas vezes e que foi divulgada pela revista Claudia está sem data, mas provavelmente foi na década de oitenta ou noventa. Nessa época eu vivia um martírio doméstico que me fez crescer como mulher. Cada linha de depoimento dessas mulheres corajosas me ajudou a entender o problema e não cair no poço da depressão; pelo contrário, elas me ajudaram a ser o que hoje sou: uma mulher independente e casada com o mesmo homem que ainda amo. Eu vi a minha história que hoje volto a ler nas páginas amareladas que destaquei e guardei como relíquia.

TRANSCRIÇÃO:

MEU MARIDO BEBE MUITO

Será que ele é alcoólatra?
 Um dia ele chega de pilequinho, você até acha graça. Depois a coisa passa a ser um hábito e você se pergunta até onde é normal, “já que todo mundo bebe”. Normal sim, até certo ponto...
Reportagem: Cristina Ribeiro Nabuco (SP)
E Aída Veiga (Rio)

O ator Humphrey Bogart disse uma vez que o grande problema da humanidade é que a natureza fez o homem com duas doses a menos. O psiquiatra Eduardo Mascarenhas acha que para corrigir essa “falha” da natureza, milhares de pessoas recorrem aos drinques numa tentativa de colocar a vida em ordem. Mas para oito milhões de brasileiros (dado aproximado do número de alcoólatras existentes no Brasil), duas doses são apenas o começo. Logo esticam para três, quatro, daí a pouco estão com a garrafa debaixo do braço.
Normalmente a história de quem tem “queda” para a bebida começa na adolescência. Depois se bebe moderadamente até os 30 anos, e daí por diante as doses vão aumentando pelos mais variados motivos. Ou sem motivo nenhum. Foi o caso de Bozo Udovic Banic, 41 anos, vendedor, casado há dezesseis anos com Maria. Bozo é um alcoólatra recuperado, abandonou a bebida há seis anos e relembra quando tudo começou: “Com uns treze anos eu bebia nas festinhas para dar ânimo, poder tirar uma menina para dançar __ eu era muito tímido. Fui bebendo assim até os dezesseis anos. Aí as dosagens foram aumentando, eu e minha turminha de amigos começávamos a namorar, achávamos que sabíamos o que queríamos. Nessa época começamos com os famosos porres. Eu ia dormir não me sentia mal. Acordava voltava tudo ao normal; eu bebia mais, aumentava as doses. Até que conheci Maria. Perto dela eu evitava, usava chicletes para disfarçar”.
Antes de casar a mãe de Bozo avisou Maria que ele era bêbado. Mas ela disse que se casava assim mesmo e depois eles se acertavam. Mas não foi bem assim: A VIDA SE TRANSFORMOU NUM INFERNO. Bozo não parava no emprego, batia em Maria, mas curiosamente, não lhe passou pela cabeça que podia ser um alcoólatra. “Eu achava que era normal como os outros. Mas com os anos... O álcool é lento, progressivo, não tem pressa de destruir o ser humano. Fui bebendo, aumentando as doses. Quando me sentia mal, fígado e estômagos atacados, eu passava uns dois meses sem beber. Automedicava-me, voltava ao normal e recomeçava a beber tanto quanto antes.”
MEU MARIDO BEBE
QUEM TOMA UMA GARRAFA DE VINHO POR DIA ESTÁ NO LIMITE
Profissões de alto risco “alcoólatra”, assim poderíamos definir os executivos, publicitários, vendedores e tantas outras atividades que exigem uma performance social onde o álcool entre como ingrediente básico do ritual. Quanto mais sucesso, mais chance tem o homem de beber. Isso é um fato comum, integrado ao nosso cotidiano. Mas é bebendo cotidianamente que uma pessoa pode ser tornar alcoólatra. Maria Bernadete uma jovem dona de casa, pensou como a maioria das mulheres que vivem tal situação, não haver nada de errado com o comportamento de seu marido, um bem sucedido diretor de marketing. “Ele bebe como todo mundo, mas de uns tempos para cá começou a ficar esquisito, mudou até o seu comportamento com os filhos. Irritado já chega em casa meio alto, corta o papo com as crianças __ há muito tempo não se preocupa em ver as lições de júnior __ e parece que nem me vê. Todo dia ele já chega em casa ‘calibrado’ e cai no sofá com um copo de uísque e de lá só sai para completar a dose. Mas eu não acho que o meu marido seja um alcoólatra. De jeito nenhum!”
“A reação de Maria Bernadete é comum até certo ponto”, revela o Dr Hélio Elkis, psiquiatra e psicanalista, com tese de mestrado sobre alcoólatra crônico. “A mulher tem a maior resistência em assumir-se como mulher de alcoólatra. Mas tem que se encarar de frente que está com um problema desse porte.”
Independente da vontade de Maria, devagarzinho seu marido está minando seu organismo, o sistema nervoso já está abalado. Como Maria descreveu, Alberto já mostra alterações de comportamento. De fato ele ainda não é daqueles alcoólatras clássicos que logo de manhã precisa de um trago para continuar vivendo. Mas certamente ele abusa do álcool, e se continuar nessa marcha tornar-se alcoólatra é questão de tempo. Mas qual a diferença entre abusar do álcool e ser um dependente? Para o Dr. Elkis, há uma diferença fundamental: “Abusa quem bebe quantidades excessivas por dia e começa ater prejuízos no trabalho e com a família. Tem dependência quem acorda de manhã tremendo e precisa beber. Isso é clássico, essa é a diferença. Você pega um executivo, por exemplo, que está bebendo os seus três ou quatro uísques por dia, em geral à noite, e em função disso começa a ficar inconveniente, a chegar tarde em casa. É sinal de que está havendo abuso do álcool, mas ele ainda não é um dependente. Mas, entre oito e dez anos, esse abuso constante leva a dependência”.
João Ricardo tem 42 anos, é diretor administrativo de uma, multinacional, casado dois filhos adolescentes. Todo final de expediente é hábito entre os diretores da empresa um uisquezinho para descontrair “É a hora em que a gente discute os problemas do dia com menos tensão. Às vezes continuamos, porque temos um convidado para o jantar, e aí sim a coisa vai longe, porque em geral tem o licor de fim de noite ou mais um scotch para ouvir uma boa música. Tenho sorte, meu fígado não reclama.”
Regina, mulher de João Ricardo, diz que já faz muito tempo que os dois não conseguem ter uma boa conversa, a não ser numa mesa de bar ou com um copo de uísque entre eles. “Não é que ele fique chato. Acho que, se muda é para melhor. Depois do terceiro copo, o João Ricardo parece outra pessoa: mais solto, mais aberto __ logo ele que é uma pessoa tão quieta.”
É aí que mora o perigo, como diz Jô Soares. Beber em si não é alcoolismo. Mas quando se usa a bebida para falar mais firme com o chefe, para aliviar a tensão (e todo dia estamos tensos), para dominar a timidez, para poder desempenhar um papel, estamos a um passo do precipício, porque se um uisquezinho solta a língua e descontrai o corpo, amanhã serão necessários dois, depois três, e assim progressivamente aumenta-se as doses para se atingir o mesmo resultado.
É difícil definir alcoolismo. Uma regra que funciona é quando a pessoa perde a liberdade de escolha, quando não consegue falar “eu já tomei minhas duas doses e não vou beber mais.”
Na opinião de Bozo, que abandonou a bebida há seis meses, deve haver uma normalidade no ato de beber: “Normal é aquela pessoa que bebe dois, três copos, uma cerveja, uma ou duas vezes por semana”. Todo aquele que bebe mais de três doses diárias, eu acredito é um alcoólatra em escala menor. Daí vai progressivamente até não controlar mais.
Veja, no começo eu bebia porque gostava. No fim o corpo pedia”. Existe um determinado momento”, afirma o Dr. Elkis, em que pode ocorrer a ruptura, e do abuso a pessoa passa a ser dependente.”

“MEU MARIDO É ALCOOLATRA. MAS ESTÁ SÓBRIO HÁ QUATRO ANOS”.

 “O Zé sempre gostou de uma bebidinha. Casamos muito cedo e éramos um casal de dar inveja a todo mundo. Já naquela época o Zé gostava de beber, mas só nos fins de semana. Com o tempo ele foi bebendo cada vez mais. Ao mesmo tempo em que aumentavam os porres, eu tentava ter filhos e não conseguia. Até que descobri que não podia ter filhos __ e o Zé queria ter uma dúzia. Aí ele começou a beber mais e mais e eu me sentia culpada. Achava que ele bebia porque não podia ser pai. Ele continuava tendo sucesso na profissão. Mas quando chegava a sexta-feira ele ficava ansioso para começar a beber. E quase toda segunda eu ligava para a agência onde ele trabalhava dando uma desculpa. Comecei também a pagar as desprezas da casa (seu dinheiro ia para a bebida com os amigos). Era muito raro ele querer fazer amor e, quando queria não se preocupava mais comigo: só queria saber do prazer dele. Até que tirei umas longas férias e me separei dele. O Zé veio atrás pedindo mil desculpas, prometendo não beber mais e quando decidi voltar, ele abriu uma garrafa de uísque para “beber morar a minha volta”. Até que um dia minha psicóloga me encaminhou para o AL-Anon. Foi aí que descobri que nada podia fazer contra a doença do meu marido e que eu não tinha culpa nenhuma. Fui mudando de comportamento, cuidando mais de mim e menos do Zé. Aos poucos ele foi percebendo a minha mudança e sofrendo com ela. Quando eu já estava quase um ano no AL-Anon, ele resolveu procurar os AA (Alcólicos Anônimos). A bebida começava a prejudicar sua carreira (ele vivia esquecido). Ele ficou três anos no AA. Quando percebeu que não precisava mais beber, que podia controlar sua obsessão, partiu para uma terapia. Todo esse processo foi muito duro, mas estamos lutando para ser feliz”.

“Mais de três uísques diários trarão problemas futuros”

“A gente hesita em aceitar que o problema existe”, conta Mariana, 38 anos, “mesmo que esteja na cara como foi o meu caso. Fechava os olhos e dizia que meu marido não era alcoólatra. Engraçado que ele também se fazia a pergunta, geralmente depois de um grande porre. Até hoje reluto em admitir que ele não pode beber.” Uns podem outros definitivamente não podem. Essa é a regra. Quem pode beber jamais será perdido pelo vício, mesmo que beba exageradamente: pode porque não depende do álcool para melhorar (como acredita o alcoólatra) sua performance no mundo. Você pode até se chatear com as suas eventuais bebedeiras, mas sabe que no outro dia ele estará refeito, lamentando ter bebido tanto. Já para quem não pode o álcool é uma verdadeira ameaça. Ou ele nunca bebeu (portanto impossível saber se é um alcoólatra), ou ele já bebeu e muito e você já deve ter ouvido falar __ ou visto antes de se casar com ele. Mariana relembra: “Desde a adolescência meu marido bebia. Minha sogra me avisou antes do casamento. Mas pensei que depois a gente resolveria. Não resolvemos. Meu marido só parou de beber a seis anos: somos casados há 15 __ Foram nove anos de duras batalhas”.
Para este alcoólatra em potencial, abusar da bebida é um perigo. Ele não pode beber. Pedro, o marido de Mariana, apesar de hoje ser abstêmio, sabe que, se tomar uma taça de champanhe no réveillon, não vai mais conseguir parar. “Para se tornar abstêmio, o alcoólatra precisa ser cercado dos maiores cuidados”, aconselha Eduardo Mascarenhas. Ele pode sob supervisão médica, recorrer a drogas que criam um horror à bebida. Porém isso é um quebra-galho. O alcoólatra deve fazer uma prolongada psicoterapia para ajudá-lo a resolver os conflitos sem o auxílio do álcool. Minha experiência contudo, revela que até uma análise profunda para muitos casos é insuficiente.”
E Mascarenhas aponta a recuperação através dos alcoólicos anônimos, o AA como a via mais eficiente para se chegar à cura: O ideal é a combinação de uma psicoterapia com o AA. Um membro mais experiente do AA funciona exatamente como um psicanalista, só que, como ele é um ex-bebedor, sabe como ninguém colocar as palavras à alma do bebedor. Por isso as sessões do AA funcionam, parecem terapia de grupo.”
Ninguém pode se tratar no lugar do dependente do álcool. Ele precisa buscar em si a força necessária para deixar de beber. Mas quem tem um marido alcoólatra precisa de ajuda para não assumir culpas. ”É um ato de profundo amor, de muito respeito”, diz o psiquiatra Cid Merlino Fernandes, do Centro de Recuperação Girassol, “quando a mulher chega para o alcoólatra e diz: ‘Te amo, mas não tenho pena de você’.”

“O alcoólatra não bebe porque tem problema: ele tem problema porque bebe”


A afirmação do Dr. Cid Merlino Ferandes, psiquiatra do Centro de recuperação Girassol, com alcoólatras e dependentes de drogas. “Existem teorias que dizem que o alcoolismo é fruto de trauma na infância, de problemas na fase oral do indivíduo”. Ele bebe emoções, relacionamentos, mas isso não quer dizer que ele bebe porque tem problema: ele tem problema porque bebê! Mesmo sem ingerir álcool, o alcoólatra já é um alcoólatra. A diferença entre um alcoólatra e um bebedor social está nos pontos: O alcoólatra tem:
1) Ressaca com extremo remorso, enquanto o bebedor social fica apenas com uma terrível dor de cabeça.
2) Obsessão pela bebida, enquanto o bebedor social só bebe quando surge a oportunidade.
3) O alcoólatra programa suas bebedeiras, enquanto o bebedor social fica de porre quando menos espera ou quando tem um motivo determinante __ uma briga com a esposa ou a vitória do seu time. Geralmente a mulher de um alcoólatra se pergunta por que ele bebe tanto. Muitas dizem que fazem tudo por seus maridos __ até mesmo se submetem a relações sexuais degradantes. E, mesmo assim, eles continuam bebendo. Elas pensam: ‘Como ele está bem no trabalho, se nossos filhos estão bem, então é comigo o problema’. Quando a mulher chega a esse discurso, já perdeu toda a auto-estima, todo amor por si própria e está tão envolvida com a bebida quanto o próprio alcoólatra. Mas tomando conta do marido, livrando-os dos problemas conseqüentes de suas bebedeiras, ela está ajudando seu parceiro a continuar a beber. O alcoólatra não tem culpa por ser alcoólatra, mas tem culpa dos estragos que faz. Ela precisa desligar-se dele. Todo alcoólatra alcooliza sua família: dessa regra ninguém escapa. Tanto a família quanto a mulher precisam curar-se desse alcoolismo. Ela precisa ter auto-estima e cuidar apenas de sua vida para que o alcoólatra tente cuidar da sua. Só quando o alcoólatra começa a ver que sua própria mulher está tentando ser feliz __ apesar de ele continuar bebendo __ é que pode começar o seu processo de cura.”

“Todo alcoólatra alcooliza sua família: dessa regra ninguém escapa.”

“Geralmente a mulher de um alcoólatra se pergunta por que ele bebe tanto.”
“Ela precisa ter auto-estima e cuidar apenas de sua vida para que o alcoólatra tente cuidar da sua.”

 ‘“Te amo, mas não tenho pena de você’.”

“O alcoólatra não tem culpa por ser alcoólatra, mas tem culpa dos estragos que faz. Ela precisa desligar-se dele.”

Todas as frases em destaque são poucas para a realidade que vivi por mais de 30 anos. Sou mulher de alcoólatra que nunca admitiu que eu falasse tal frase. Com o meu casamento marcado, no dia do chá de cozinha vi o meu futuro marido completamente embriagado. Fiquei tão assustada que liguei para a minha mãe lá na Bahia. Então ela me deu um conselho muito sábio: ‘Se você ainda for virgem e não gostar dele pode terminar que ainda há tempo (aprendi que deveria me entregar ao meu primeiro marido e viver com ele até que a morte nos separe). Mas se você o ama pode casar com ele. Mulher precisa de uma família e você está longe da sua. Depois você vai encontrar uma saída. Você é muito inteligente!’
Casei-me já grávida da minha primeira filha e nos primeiros anos resolvi completar a família de três que ele tanto queria. Mas foi horrível o pesadelo que vivi por muitos anos até procurar ajuda com amigos e também com a revista Cláudia. Assistia a programas de rádio. As agressões verbais sempre me machucaram, mas a melhor saída e bem planejada foi resgatar o passado quando escrevi sob a luz fosca do abajur a minha autobiografia. Minha carta de alforria. Criei os meus filhos e eles estudaram tanto que são hoje pessoas bem sucedidas, independentes e saíram de casa logo após os dezoito anos. O meu filho escreveu uma redação na escola dizendo que quando fosse adulto queria ser igual à mãe. Passamos por tantos conflitos e aprendemos com a autoestima e o sucesso no trabalho. Para mim a fuga foi o trabalho. Mas se alguém me perguntar quantas vezes eu já discuti com o marido eu não saberia dizer. Mas o nosso amor foi lindo nas madrugadas quando ele já estava sóbrio. “PERDAS E DANOS”? Tivemos muitas: amigos, passeios, religião, harmonia, prazeres sociais. Mas ele é o maior perdedor porque depois dos 50 anos a sua saúde já estava detonada. E eu estou inteira para cuidar dele. Minha saúde física e mental é ótima como também a dos nossos filhos. Quem nos ajudou? Com certeza uma reportagem como esta e tantas outras que li e reli por tantas vezes. Se estamos juntos é porque ainda vale a pena. E provavelmente só uma decisão dele nos separa e eu não acredito nisso. Passei a fazer tudo o que eu queria e me tornei uma mulher independente e hoje vivo a alegria de construir um futuro cheio de realizações depois dos 56 anos. Ainda há tempo?  Já me sinto vivendo esse tempo a muito tempo.
Gelza Reis Cristo