GÊNEROS
TEXTUAIS:
ADAPTAÇÃO
DO CONTO PARA O TEATRO
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de
Campinas como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa.
Orientador: Ms Paulo Eduardo Mendes da
Silva
Campinas
2011
DEDICATÓRIA
Dedico esse TCC e minha especialização em Língua Portuguesa,
feitos com muito amor, dedicação e empenho,
Ao meu esposo, José Antônio Cristo, e aos meus
filhos, Vanessa Reis Cristo, Verônica Reis Cristo e Rodolfo Reis Cristo, pelo
apoio da família e compreensão durante todo o curso.
AGRADECIMENTOS
À
Secretaria Estadual de Educação do Estado de São Paulo (SEE-SP), que, por meio
do Programa Rede São Paulo de Formação de Docente – REDEFOR, possibilitou a
realização deste Curso de Especialização em Língua Portuguesa,
através de convênio com o Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da
Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
À
Dra. Roxane Rojo, pela capacidade de pesquisa contínua no universo da
Linguística – sem os seus textos continuaríamos menos letrados. À Profª.
Elisabete Aparecida Alves Soares, a nossa tutora, pela sua capacidade de sanar
dúvidas no nosso curso on-line do AVA, esse espaço gigantesco a caminho do
nosso engrandecimento profissional. Estamos honrados e agradecidos.
À
Dra. Márcia de Paula Gregório Razzini, pelo apoio direto aos membros deste
curso, que prestou apoio fundamental para a realização deste trabalho, nossos
agradecimentos.
Ao
Ms Paulo Eduardo Mendes da Silva, meu orientador, pela paciência com as minhas
falhas no manejo do hipertexto.
Agradeço,
também, aos colegas, todos os que persistiram nessa jornada, e aos que ficaram
no meio do caminho para que, no amanhã, possam completar os sonhos barrados
pelas nuvens que passam no nosso dia a dia. A todas as pessoas que
participaram, contribuindo para a realização deste trabalho, direta ou
indiretamente.
A
sociedade do conhecimento é uma sociedade de aprendizagem. O sucesso econômico
e uma cultura de inovação contínua dependem da capacidade dos trabalhadores de
se manter aprendendo acerca de si próprios e uns com os outros. Uma economia do
conhecimento não funciona a partir da força das máquinas, mas a partir da força
do cérebro, do poder de pensar, aprender e inovar.
Andy Hargreaves
RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso, requisito
para a obtenção do título de Especialista em Língua Portuguesa,
tem por objetivo apresentar e discutir uma Sequência Didática (SD) elaborada
para alunos 2º ano do Ensino Médio. Nesta
SD, propõe-se uma metodologia para a adaptação do conto para o teatro na sala
de aula, cujo texto será escolhido pelos alunos a partir da leitura dos contos
de Sagarana, livro de Guimarães Rosa.
Dentro desse gênero, o alunado deverá trabalhar em grupo para transformar o
conto em peça teatral. Para tanto, a SD inclui a apresentação das técnicas do
teatro, bem como de conceitos teóricos da esfera do conto.
Palavras-chave: Esfera Literatura; Gênero “conto”;
Sagarana, Guimarães Rosa; Sequência Didática; Teatro; Ensino Médio.
ABSTRACT
This Final Work Course, requirement for obtaining
the title of Portuguese Language Specialist, aims to present and discuss one
Instructional Sequence (IS) prepared for High School Students. This IS includes
a methodology to adapt a tale for theater in school. The text will be chosen by
students after reading all Sagarana tales, written by Guimarães Rosa. Within
this genre, sudents should work in group to turn the tale into a play. For this
purpose, IS includes a presentation of the techniques of the theater, as well
as theoretical concepts of the sphere of the tale.
Keywords: Literature Sphere, "tale" Genre; “Sagarana”, Guimarães Rosa; Instructional Sequence; Theatre; High School.
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO......................................................................................................... 01
2.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA........................................................................... 03
2.1
Gêneros textuais e ensino............................................................................. 03
2.2 A esfera comunicativa literária..................................................................... 05
2.3
O gênero conto................................................................................................ 07
3.
ANÁLISE COMENTADA DA PROPOSTA DE SEQUÊNCIA DIDÁTICA..... 09
3.1
Informações gerais......................................................................................... 09
3.1.1 Objetivos esperados............................................................................ 11
3.1.2 Características da turma..................................................................... 11
3.2 A organização da SD...................................................................................... 11
3.3
As atividades propostas em cada unidade de trabalho............................ 12
4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................. 16
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS........................................................................ 17
ANEXO:
SEQUÊNCIA DIDÁTICA: Adaptação
do conto para o teatro.............. 20
1.
INTRODUÇÃO
Nos anos 1990, a escola pública passou
por grandes transformações até atingir a universalização do Ensino Básico no
Brasil. Hoje, verificamos que o mesmo processo está acontecendo com o Ensino
Médio e Superior no País. Para Rojo (2009), a diversidade cultural, tanto de
alunos quanto de professores das classes populares, trouxe para as escolas
públicas letramentos antes desconhecidos, o que significou conflitos quanto às
práticas valorizadas e não valorizadas nas escolas. A autora salienta que essa
diversidade modificou o ambiente escolar de modo que a escola hoje é um
universo de letramentos múltiplos. Contudo, mesmo com os impactos visíveis do
letramento escolar, isso não significa a permanência nem a qualidade do ensino.
Lemov (2011) discorre no
seu texto que a leitura é uma competência essencial para a formação crítica do
cidadão. “Somos o que lemos e como lemos. Não há outra atividade capaz de gerar
tanto valor educacional.” Contudo,
afirma o autor, a carga de leitura é baixa na maioria das escolas, mesmo nas
aulas de literatura ou outras disciplinas que exigem maior leitura. “Tornar a leitura altamente produtiva e
eficiente em sala de aula é uma habilidade essencial, independentemente da
disciplina ou do ano que o professor ensina.” (LEMOV, 2011, p.271).
Ainda de acordo com LEMOV
(2011), todos os professores devem ser professores de leitura e devem ser
capazes de desenvolver habilidades importantes para os seus alunos, como a decodificação,
a leitura rápida de um texto, a atenção para o vocabulário e compreensão do
texto.
A falta de leitura em sala
de aula também é um problema abordado por ROJO (2004, p.1). Segundo a autora, a
população brasileira, apesar de possuir uma formação escolar oficial maior do
que no passado, não ampliou seus índices de leitura. Ou seja, a escolarização,
no caso da sociedade brasileira, não levou à formação de leitores e produtores
de textos proficientes e eficazes. Em muitos casos, a escolarização fez
justamente o contrário, restringindo o hábito da leitura a uma pequena elite. Para
LERNER (2002):
Ensinar
a ler e escrever é um desafio que transcende amplamente a alfabetização em
sentido estrito. O desafio que a escola enfrenta hoje é o de incorporar todos
os alunos à cultura do escrito, é o de conseguir que todos seus ex-alunos
cheguem a ser membros plenos da comunidade de leitores e escritores. (LERNER,
2002, p.17)
A autora lança desafios para
transformar o ensino da leitura e da escrita no sentido de formar
leitores/cidadãos, não apenas transformar o aluno em um sujeito que decifra
códigos. Para LERNER (2002), é preciso formar leitores que saberão escolher o
material escrito adequado para resolver possíveis problemas.
Tendo
em vista este cenário, este trabalho de Conclusão de Curso tem por objetivo
discutir uma Sequência Didática (SD) elaborada para os alunos do 2º ano do
Ensino Médio. A SD apresenta uma metodologia para a adaptação do conto para o
teatro em sala de aula, cujo texto será escolhido a partir da leitura dos
contos de Sagarana, de Guimarães
Rosa. O objetivo é incentivar os alunos na leitura de clássicos de nossa
literatura, utilizando para isso recursos do universo teatral, como a
oralidade, a interação e a criatividade. Nesta proposta, os alunos irão ampliar
a capacidade de leitura e compreensão das características do gênero conto, além
de desenvolver habilidades como o trabalho em equipe e a expressão oral e
escrita.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Gêneros Textuais e ensino
A expressão “gênero” começou a ser
utilizada no estudo ocidental da literatura, inicialmente com Platão, para
então se concretizar na obra “Retórica”, de Aristóteles. Conforme aponta
Marcuschi, “o estudo dos gêneros não é novo, mas está na moda” (MARCUSCHI,
2008, p.147). O
autor explica o trabalho de análise dos gêneros textuais:
Isso está tornando o estudo de gêneros
textuais um empreendimento cada vez mais multidisciplinar. Assim, a análise de
gêneros engloba uma análise do texto e do discurso e uma descrição da língua e
visão da sociedade, e ainda tenta responder a questões de natureza sociocultural
no uso da língua de maneira geral. O trato dos gêneros diz respeito ao trato da
língua em seu cotidiano nas mais diversas formas. (MARCUSCHI, 2008, p.149)
O estudo de Bakhtin (2006) sobre a definição do gênero do
discurso envolve aspectos de natureza oral e escrita, explorando o emprego da
linguagem em cada uma delas. Segundo o autor, a atividade humana de qualquer
natureza se realiza por meio de um gênero, que pode ser primário ou secundário.
Nos gêneros de discurso primários são aqueles nos quais a linguagem cotidiana
se manifesta. Já os gêneros de discurso secundários são relacionados modos de
comunicação mais complexos, tomando principalmente a forma escrita. Contudo, a
condição de produção do discurso não se dá somente pelo conteúdo temático, mas
pelo estilo da linguagem, recursos lexicais selecionados, fraseológicos e
gramaticais. Nesta construção, elementos como a temática, o estilo e a composição
estão interligados e são determinados por algum campo de comunicação.
Bakhtin explica que a riqueza
dos gêneros do discurso é tão ampla que se torna inesgotável as possibilidades
da multiforme atividade humana. Isso porque em cada canto dessa atividade é
integral o repertório dos gêneros do discurso. Para ele, esse repertório cresce
e se diferencia à medida que se desenvolve num determinado campo. A
heterogeneidade dos gêneros do discurso (orais e escritos) é observada nos
diálogos do cotidiano, como documentos oficiais, manifestações publicísticas
(sociais e políticas) e do provérbio. Atualmente, por exemplo, verificamos o
surgimento de gêneros digitais, como o hipertexto, o e-mail, o chat e o blog. São
eles que hoje substituem outros gêneros textuais, como a carta, conforme foi
visto ao longo do curso de pós-graduação REDEFOR/UNICAMP/2011.
Sobre os gêneros artístico-literários, Bakhtin afirma que, desde a Antiguidade até os
nossos dias, eles foram estudados somente no âmbito da literatura e, apesar de
serem diferentes dos demais gêneros, possuem com eles uma mesma natureza verbal
comum. Desse modo, a língua, por meio de enunciados concretos, passa a integrar
a vida das pessoas.
A
Proposta Curricular do Estado de São Paulo, da Secretaria Estadual da Educação,
tendo em vista os Parâmetros Curriculares Nacionais, propõe um currículo
voltado para o estudo dos gêneros textuais no ensino da língua materna, tanto
oral quanto escrita.
Trabalhar com gêneros textuais em
sala de aula, sob a forma de uma sequência didática, foi um tema amplamente
discutido por Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004, p. 96-7). Segundo os autores, quando nos comunicamos, nós estamos nos adaptando
a uma situação de comunicação. No texto escrito, isso significa que nós nunca
escrevemos da mesma maneira porque cada situação requer um gênero diferente.
Por esta razão, cada texto possui características diferentes. Apesar das
diferenças, é importante apontar que os gêneros textuais também carregam
características semelhantes entre si.
As sequências didáticas são compostas
por uma estrutura-base, formada por módulos, com o objetivo de apresentar uma
situação e um produto final. Esses módulos são constituídos por várias
atividades ou exercícios. Em sala de aula, quando uma situação é apresentada ao
aluno, objetiva-se a discussão do problema sob a forma de um trabalho coletivo
que, por sua vez, levará a produção de um gênero oral ou escrito.
2.2 A esfera comunicativa literária
Estudar o gênero conto é conhecer as
suas especificidades. E, sendo o conto o objeto da SD em análise, faz-se
necessário caracterizar o que entendemos por esfera literária.
Terry Eagleton, em Teoria
da Literatura (2006, p. 3-4), apresenta algumas definições e possibilidades
para a esfera literária. Ele afirma que muitas são as tentativas de definir a
literatura como “escrita imaginativa”, no sentido de ficção, porque esta esfera
emprega a linguagem de forma peculiar. Já o formalista russo Roman Jakobson
afirma que a literatura é uma “violência organizada”, transformando e
intensificando a linguagem comum. Podemos observar a tentativa dos críticos em
entender as particularidades do texto literário:
À
crítica caberia dissociar arte e mistério e preocupar-se com a maneira pela
qual os textos literários funcionavam na prática: a literatura não era uma
pseudo-religião, ou psicologia, ou sociologia, mas uma organização particular
da linguagem. Tinha suas leis específicas, suas estruturas e mecanismos, que
deviam ser estudados em si, e não reduzidos a alguma outra coisa. (EAGLETON,
2006, p. 04)
Marisa Lajolo, no livro O que é Literatura? (1995), deixa claro um conceito ideal de
literatura. Para ser considerada verdadeira, a literatura deveria passar pelo
aval de alguns intelectuais, críticos, Universidades e acadêmicos. No entanto, a
autora não esquece o papel da escola neste cenário: as instituições de ensino
básico fazem o papel de avalistas e fiadoras do valor literário de livros em
circulação.
Em Dicionário de
Termos Literários (2000), Massaud Moisés apresenta uma postura crítica
quanto aos estudos de teoria literária: “Problema fulcral e permanente, situado
na base de todas as controvérsias críticas e teóricas, o conceito de
‘Literatura’ tem sido amplamente examinado, sem conduzir a resultados
definitivos.” (MOISES, 2000, p.310-311)
Um dos objetivos da SD é
instigar o gosto do alunado pelos clássicos da nossa literatura e, com isso,
aproximar o aluno do universo da leitura e da escrita. Para tanto, nossa
proposta é a composição de um texto teatral baseado no conto A
Hora e a Vez de Augusto Matraga,
conto extraído do livro Sagarana, de
Guimarães Rosa. Fazer teatro na escola é um desafio, tanto para o professor
quanto para o aluno. Contudo, acreditamos que esta atividade possa desenvolver
a oralidade, a sociabilidade e a interação entre os alunos, por meio do
trabalho com gêneros textuais.
A escolha de Sagarana
implica trabalhar a importância desta obra no cenário da literatura
regionalista. Muitos escritores brasileiros se “apossaram” do mundo rural para
construir suas tramas, atribuindo a seus personagens características deste
ambiente.
Em Guimarães Rosa, a tendência regionalista acaba
assumindo a característica de experiência estética universal, compreendendo a
fusão entre o real e o mágico, de forma a radicalizar os processos mentais e
verbais inerentes ao contexto fornecedor de matéria-prima. (ACHCAR
& ANDRADE, s/d, p.115-116)
É
importante que os alunos do 2º Médio incluam em seu repertório leituras
consagradas no cenário literário, antes de ingressarem no 3º ano do Ensino Médio,
marcado por vários compromissos com a leitura:
O
grau de equilíbrio pessoal do aluno, sua autoimagem e autoestima, suas
experiências anteriores de aprendizagem, sua capacidade de assumir riscos e
esforços, de pedir, dar e receber ajuda, são alguns aspectos de tipo pessoal
que desempenham um papel importante na disposição do aluno diante da
aprendizagem (Coll et al., 2006, p.59).
A leitura de contos regionais é uma forma de abordar as
variantes linguísticas, de maneira a conhecer os neologismos do autor de Sagarana e analisar com os alunos a
linguagem reinventada de Guimarães Rosa.
2.3
O gênero conto
O gênero conto ganhou definições de diversos autores,
inclusive daqueles que, além de leitores, também deram a sua contribuição para este
gênero. Em Contos e Contistas, do
livro Empalhador de Passarinho (2002),
Mário de Andrade mostra a importância de tentar definir o gênero conto. A obra
foi publicada pela primeira vez em 13 de setembro de 1938, época em que a
definição de conto já era motivo de inquérito da “Revista Acadêmica”. A publicação propôs fazer uma seleção dos dez
melhores contos brasileiros. Para Mário de Andrade, o fato ocorreu justamente
pela dimensão da polêmica em torno da definição do que era um conto, e a mídia
queria mesmo era “botar mais fogo na canjica”. (ANDRADE, 2002, p. 9)
O inquérito do fato despertou o interesse dos meios de
comunicação: articulistas de diários e aerocronistas discutiam o assunto. E a
definição de conto seguiu não esclarecida devido às várias diferentes manifestações
de intelectuais da época. Para Mário de Andrade, o conto é um “inábil problema
de estética literária. Em verdade, sempre será conto aquilo que o autor batizou
de conto.”
Massaud (1992), em Dicionário
de Termos Literários, explica que o conto apresenta uma estrutura própria e
é diferente das outras narrativas, como o apólogo, a crônica e o poema. Este
gênero sofreu alterações no decorrer dos séculos e, com o passar o tempo, ampliou-se
e passou a ser o embrião da novela ou do romance. Sob o prisma dramático, o
conto é univalente, pois contém um só drama, um só conflito, e única unidade
dramática, uma história, uma ação. Portanto, o conto é uma célula única.
No
livro Contos Brasileiros II (2000), de Alaíde Gimenez, encontramos a
seguinte definição desse gênero:
O
conto continua cada vez mais short story,
para usar a expressão de Forster, que se traduz na contensão, no espírito de
linguagem, no abandono de ornamentos inúteis e, portanto, um problema de
linguagem, também, de criação e estilo, dentro dos curtos limites da narrativa,
cuja ambição é também suscitar a presença de gente real, viva, e a sensação
inspirada diretamente pelas próprias coisas. O conto é um caleidoscópio e, como
tal, deve comunicar uma impressão de vida ou então de simples emoção a ser
instalada na alma do leitor, sempre apressado em chegar ao fim, como supõe a
época da velocidade em que vive [...] (LINHARES, 1973, pp.6-7, apud Gimenez, 2000).
Segundo
Propp (1978, apud GOTLIB, 2000, p. 22):
Podemos
chamar conto maravilhoso, do ponto de vista morfológico, a qualquer desenrolar
de ação que parte de uma malfeitoria ou de uma falta (...), e que passa por
funções intermediárias para ir acabar em casamento (...) ou em outras funções
utilizadas como desfecho”.
No Caderno do Professor (SEE, 2010), o
gênero conto, na sua fundamentação teórica, é estudado a partir da noção de
contextualização. Já o Caderno do
Professor do 2º Médio do quarto bimestre (2009, p.16) traz considerações a
respeito do neologismo e do gênero conto. O neologismo consiste na criação de
uma palavra a partir de outras já existentes, muitas vezes juntando um vocábulo
inteiro a outro. A literatura do século XX está repleta de neologismos com
intenções literárias, não somente em Guimarães Rosa, como também em Osvald de Andrade,
Alcântara Machado e outros.
Ao selecionar um conto para estudo em sala de aula,
devemos levar em conta o seu tema, forma e de que modo esse material será
trabalhado. O objeto do discurso, assumido como tema, recebe um acabamento em
função de uma abordagem específica do problema, do material, do contexto
comunicacional e do intuito do autor.
3
ANÁLISE COMENTADA DA PROPOSTA DA
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
3.1
Informações gerais
Nesta sequência didática o professor propõe uma série de
objetivos, que podem ser enumerados a partir do primeiro módulo, chamado de
aula 1. Nesta aula de Língua Portuguesa, que poderá ser dupla (o que
normalmente ocorre), o que se pretende é resgatar o currículo oculto tanto do
discente quanto do professor sobre o universo teatral. Nestas atividades em
grupo haverá o desenvolvimento das habilidades de leitura e da arte de
desenhar.
A
SD em análise foi elaborada para alunos do 2º ano do Ensino Médio, pois neste
momento os alunos necessitam de um contato mais prazeroso com um clássico da
literatura nacional. Além disso, a turma já esteve em contato com textos
literários no 1º ano do Ensino Médio. Alguns alunos desta fase de aprendizagem
desenvolvem habilidades e competências na arte do grafite, que é uma das
sugestões de atividades. Podemos afirmar que o objetivo geral desta SD é a
participação de todos, uma vez que no teatro há uma grande diversidade de
funções. Mesmo que o aluno não queira representar no palco, ele ainda poderá
escolher entre tantas atividades aquela na qual mais se adapte.
Fazer
teatro é trabalhar em grupo, causar reboliço, convocar a comunidade para
assisti-los; é levá-los para fora da escola em possíveis apresentações, é
expressão corporal, é provocar vocações, mesmo que remotas. Há sempre um grupo
que se destaca entre os demais. E o que esperamos é que eles saiam desta SD
como escritores de um pequeno texto (como é o conto), leitores e também jovens
atores-sonhadores.
No
módulo 2, o professor apresenta como objetivos o desenvolvimento da leitura e
da escrita, além de ampliar os conhecimentos do universo artístico. O trabalho
em grupo ocorre em todos os módulos e neste em particular, os alunos terão
contato com imagens e textos do universo teatral. No módulo 3, o professor
apresenta o objeto principal de estudo desta SD, o livro Sagarana, contos de Guimarães Rosa. O livro foi dividido em nove
textos, ou seja, nove contos que compõem a obra, com objetivos que vão desde o
desenvolvimento da leitura, como o primeiro contato com o clássico da
literatura brasileira. É neste momento que o aluno desenvolve habilidades de
leitura e fica conhecendo os neologismos do autor e as suas invenções na linguagem.
Conhecer os nove contos de Sagarana num
bimestre é um desafio para o professor e uma curiosidade para o aluno da forma
como apresentamos nesta Sequência Didática.
No
módulo 4, o objetivo é aprofundar os conhecimentos do aluno sobre o gênero
conto, assim como a biografia do autor dos contos escolhidos. O professor
levará o alunado para a sala de informática, onde fará o acompanhamento
processual para perceber o grau de interesse de todos. Da mesma maneira, no
módulo 5, os alunos farão a pesquisa teórica, também na sala de informática, buscando
conhecer as especificidades do conto: características, funções, ações, número
mínimo de personagens, a intriga ou a heroína e a ação do tempo que pode ocorrer
num determinado espaço.
No
módulo 6, os alunos escreverão numa ação conjunta (sob a mediação do professor)
o resumo do conto e irão conhecer mais detalhadamente sobre o enredo. Neste
momento, o aluno tomará contato com um ato de solidariedade praticado pelo personagem,
seguido por uma discussão em sala de aula.
Nos
módulos subseqüentes, o professor aplicará avaliações e, ao final da SD, espera
que o alunado tenha competências e habilidades necessárias para produzir uma
peça de teatro. Uma vez familiarizados com o texto e compreendidos todos os seus
mecanismos do fazer teatral, espera-se também que os alunos possam apresentar a
peça a sua comunidade de pais e professores.
3.1.1
Objetivos esperados
Pensando na promoção de
práticas de leitura e escrita em sala de aula, elaboramos uma sequência
didática com o objetivo de instigar o gosto do alunado pela leitura de
clássicos da nossa literatura. Para tanto, os alunos, no final da SD serão
capazes de escrever uma peça de teatro baseada no conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, do escritor brasileiro Guimarães Rosa. Com estratégias de leitura,
pós-leitura, análise e produção textual, nosso objetivo é levar à compreensão
do alunado as características do gênero conto. Com o apoio de mecanismos do
meio teatral, procuramos desenvolver também habilidades de oralidade, leitura e
escrita como também o trabalho em equipe, a colaboração e a sociabilidade entre
os alunos.
Acreditamos
que o teatro é um instrumento adequado de apoio para desenvolver habilidades de
leitura e escrita próprios da disciplina Língua Portuguesa, uma vez que difere
das demais em relação ao grau de interesse e capacidade de mobilização que
desperta nos alunos.
3.1.2
Características da turma
Nosso
público-alvo para a aplicação desta sequência didática são os alunos do 2º ano
do Ensino Médio, devido à necessidade, neste momento de sua vida escolar, de
acelerar o seu gosto pela leitura. Após serem introduzidos ao universo da
literatura e às escolas literárias no primeiro ano, os alunos do 2º ano do
Ensino Médio chegam a um momento em que precisam aprofundar estes conteúdos,
com a leitura e análise crítica de textos literários conceituados pelos meios
acadêmicos.
3.2 A
organização da SD
Entendemos que a esfera literária e o gênero conto são
adequados para os alunos do 2º ano do Ensino Médio porque segundo Dolz et al (acesso
2011/REDEFOR), “uma SD é um conjunto de atividades escolares organizadas, de
maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito”. Segundo
estes autores, a estrutura de base de uma SD abrange uma produção inicial e uma
produção final tal qual apresentamos neste TCC de Especialização de Língua
Portuguesa. O nosso projeto coletivo teve como embasamento o texto dos autores
DOLZ et al (acesso 2011, p.96-106).
A
escolha da esfera literária propõe a leitura de contos com o objetivo de
contemplar as tipologias narrar, argumentar e relatar. A Sequência Didática Adaptação do Conto para o Teatro é composta
por um conjunto de atividades que deverão ser trabalhadas em sala de aula e
fora dela durante esse período de aprendizagem da leitura e da escrita.
Em um primeiro momento, os alunos irão
compartilhar com seus colegas os conhecimentos que possuem sobre o teatro, com
o objetivo de resgatar o currículo internalizado no discente sobre o gênero. As
aulas seguintes seguirão com aulas expositivas sobre o universo teatral e suas
características.
No segundo momento da sequência
didática, o gênero conto passa a ser trabalhado em sala de aula, através de
aulas expositivas sobre a teoria, história e contextualização do conto. Neste
momento, o aluno entra em contato com o universo roseano, através de pesquisas
e análises de texto, no qual o aluno busca identificar características do
gênero conto na obra de Guimarães Rosa, bem como especificidades do autor neste
gênero.
No terceiro e último momento desta
sequência, uma vez assimilados os conceitos e características de conto, os
alunos fazem a adaptação do conto de Guimarães Rosa para o teatro, atividade
que visa incentivar o gosto dos alunos pela leitura das obras deste autor.
3.3
As atividades propostas em cada unidade de trabalho
A sequência
didática é composta por dez aulas, conforme esquema resumido a seguir:
AULA 1.
A Troca
A primeira atividade da sequência
didática visa resgatar o currículo internalizado do discente sobre o universo
teatral. Para tanto, o docente incentiva os alunos a compartilharem
experiências particulares que já tenham tido com o teatro. Neste sentido, os
alunos também devem fazer uma representação livre, escrita ou por meio de
desenhos, de seus conhecimentos sobre o teatro. Além de acompanhar o
desenvolvimento dos trabalhos, o professor deve participar ativamente da
atividade, fazendo ele mesmo a sua representação do tema.
AULA 2. História do Teatro
Com
objetivo de desenvolver a leitura e a escrita entre os alunos, bem como ampliar
os seus conhecimentos sobre o universo teatral e artístico, esta aula é divida
em duas partes: na primeira, o professor faz uma breve exposição sobre a
história do teatro e as características de uma peça teatral. Na segunda, os
alunos têm seu primeiro contato com o texto de teatro: eles irão trabalhar em
duplas ou trios para a leitura de trechos de peças teatrais famosas. A leitura
para os colegas visa desenvolver habilidades de oralidade e sociabilidade. Ao
final da aula, o aluno é livre para participar de uma atividade que envolve a
preparação de uma pequena cena para ser apresentada aos colegas.
AULA
3. O Conto como objeto de estudo
Na terceira aula da sequência
didática, os alunos têm seu primeiro contato com o gênero conto. Os alunos são
divididos em nove grupos e cada um deles recebe um conto do livro Sagarana, de Guimarães Rosa. O grupo
deverá fazer a leitura do conto e discutir o texto com os colegas. Neste
momento, o grupo faz um reconhecimento das características do conto, procurando
diferenças com relação aos textos vistos na aula anterior. Durante todo o
processo, o professor acompanha o desenvolvimento de aquisição de competências
e habilidades dos alunos.
AULA 4. Contextualização do conto
A quarta etapa
visa à contextualização do conto em estudo. A proposta inclui uma pesquisa na
internet sobre o autor, buscando por imagens, vídeos, peças de teatro baseadas
no conto A Hora e a Vez de Augusto
Matraga. Este conto foi sorteado na aula anterior e foi escolhido para ser
adaptado pelos alunos para um texto de teatro. Já em sala de aula, os alunos
farão uma atividade na qual devem ser capazes de reconhecer a fala regional dos
personagens no contexto do conto.
AULA 5. Teoria e História do conto
A quinta aula é utilizada para
aprofundar os conhecimentos do aluno sobre o gênero conto através de uma aula
expositiva na qual os alunos tomam nota das principais características do
gênero conto. Esta aula é uma preparação para uma avaliação que ocorrerá
posteriormente, na qual os alunos devem ser capazes de identificar estas
características no texto de Guimarães Rosa.
AULA
6. Análise do texto A Hora e a Vez de Augusto Matraga
Nesta aula, é avaliada a capacidade
dos alunos de reconhecer as características do gênero conto por meio de uma
análise de texto. Com o objetivo de desenvolver a escrita, os alunos também
deverão produzir um resumo de um trecho do conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, que foi divido em nove partes
para esta atividade em grupo.
AULA
7. A
Composição do Resumo
A partir da atividade realizada na
aula anterior, esta aula propõe a produção coletiva, sob a orientação do
professor, de um resumo do conto A Hora e
a Vez de Augusto Matraga. Cada grupo deverá fazer a leitura em voz alta do
trecho da obra que ficou responsável de elaborar o resumo, para que o professor
possa compor este texto coletivo. O resumo final deve ser copiado por todos os
alunos.
AULA
8. Pré-Avaliação
A pré-avaliação visa aferir os
conhecimentos adquiridos pelos alunos tanto sobre o gênero conto quanto sobre a
obra de Guimarães Rosa. Esta aula visa à análise de um trecho do texto em
estudo pelos alunos. O professor fará comentários da avaliação, que será objeto
de reflexão da classe.
AULA
9. Avaliação.
Nesta aula o objetivo é fazer um
diagnóstico sobre o entendimento dos alunos sobre o conteúdo apresentado nas
últimas aulas. A avaliação traz questões referentes ao gênero conto, o
entendimento do aluno do conto em estudo, da linguagem e ao estilo do autor de Sagarana.
AULA
10. Adaptação do conto para a peça de teatro
Por fim, a
última aula é dedicada à adaptação do conto A Hora e a Vez de Augusto
Matraga para um texto teatral. Nessa aula, o professor se dedica a retomar
alguns assuntos comentados ao longo de toda a sequência didática e orientar aos
alunos quanto aos cuidados que eles devem tomar na adaptação do conto para um
texto teatral. De modo a facilitar a organização dos trabalhos, esta atividade
deverá ser realizada em casa, em grupo, para a correção e uma pequena
apresentação na aula seguinte.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nosso trabalho buscou apresentar soluções
para promover o engajamento de alunos do Ensino Médio no exercício da leitura e
da escrita. Tendo em vista a necessidade do professor de incentivar os alunos à
prática da leitura, organizamos uma SD com o objetivo de estimular o aluno à
leitura de clássicos de nossa literatura. Dessa maneira, buscamos contribuir
para a formação de leitores/cidadãos, dotados de espírito crítico e engajados
para a sociedade brasileira.
Este trabalho procura atender as
tendências mais recentes no ensino da Língua Portuguesa e segue as orientações
dos Parâmetros Curriculares Nacionais e dos Cadernos do Professor da Secretaria
da Educação do Estado de São Paulo. Ambos propõem um currículo voltado para o estudo dos
gêneros textuais no ensino da língua materna, tanto oral quanto escrita.
Para tanto, escolhemos o gênero
conto, cujas características específicas facilitam o seu emprego em atividades
didáticas em sala de aula, com apoio de elementos do universo teatral. Dessa
maneira, é possível aos alunos adquirir conhecimentos sobre os gêneros textuais
e, ao mesmo tempo, desenvolver outras habilidades, como a oralidade, a sociabilidade
e o trabalho coletivo.
A
relação entre o conto e o teatro é feita a partir da adaptação do conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, de
Guimarães Rosa, para o teatro. Os contos de Guimarães Rosa levam a marca de seu
criador e contém elementos que o aproximam da novela, o que facilita a
adaptação para o teatro.
Nossa
SD é apenas uma proposta de como fazer teatro na escola, trazendo grandes
benefícios para os alunos. Ela apresenta uma sugestão de trabalho que, a partir
do teatro, seja possível o estudo de um autor consagrado, porém de difícil
compreensão pelos alunos de Ensino Médio.
Josefa Reis Santos Cristo ou Gelza Reis Cristo
Josefa Reis Santos Cristo ou Gelza Reis Cristo
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ACHCAR, Francisco; ANDRADE, Fernando
Teixeira de. OBJETIVO – OS LIVROS DA
FUVEST/UNICAMP – II. São Paulo:
CERED – Centro de Recursos Educacionais. (Não é datado)
ANDRADE, Mário de. O Empalhador de Passarinho. Belo
Horizonte: Editora Itatiaia, 2002.
ARAÚJO, Alcione; FREIRE, Aderbal
Filho; VIANNA, Guida; DIAS, José; BOTKAY, BOTKAY, Caíque; MADEIRA, Ney; ARAÚJO,
Carolina Melo Bonfim de. Narrativa
Dramática. Rio de Janeiro: ARGUS, 1ª edição, 2006.
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. Tradução de Paulo Bezerra. São Paulo:
Martins Fontes, 2006.
CARETA, Álvaro Antônio. Estudos
Linguísticos. São Paulo, 37 (3): 17-24, set-dez. 2008
DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michele;
SCHNEUWLY, Bernard. Seqüências Didáticas
para o Oral e a Escrita: Apresentação de um Procedimento. Disponível em: http://ggte.unicamp.br/redefor3/cursos/aplic/index.php?&cod_curso=238.
Acesso em 3 de agosto de 2011.
DOLZ, Joaquim; SCHNEUWLY, Bernard. Gêneros e Progressão oral e escrita – Elementos
para reflexões sobre uma experiência Suíça (francófona). In: __ e col. Gêneros
Orais e escritos na escola. Campinas: Mercado de Letras, 2004.
DUCLÓS, Miguel. O conto: dificuldade de definição do gênero e abordagem de alguns
teóricos. Disponível em: http://wwwconsciencia.org/sobre_conto.shtml.
Acesso em: 3 de agosto de 2011.
EAGLETON, Terry. Teoria da Literatura: uma introdução. Tradução de Waltensir Dutra.
São Paulo: Martins Fontes, 2006.
GIMENEZ, Alaíde. Contos Brasileiros II. São Paulo: Editora Scipione,2003.
HARGREAVES, Andy. O Ensino na Sociedade do Conhecimento – Educação na era da
Insegurança. Tradução de Roberto Catalgo Costa. Consultoria supervisão e
revisão técnica de Luciana Vellinho Corso. Porto Alegre: Artmed, Reimpressão
2008.
LAJOLO, Marisa. O Que é Literatura?. 17ª edição, São Paulo: Editora Brasiliense,
1995.
LERNER, Delia. Ler e escrever na escola – o real, o possível e o necessário.
Tradução Ernani Rosa. Porto Alegre: Artemed, 2002.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção Textual, Análise de Gêneros e
Compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Editora Cultrix, 2000.
ROJO, Roxane. Revisitando a Produção de Texto na Escola. In G. & M. G. Costa
Val (orgs) (2003) Reflexões sobre
práticas de produção de texto – o sujeito-autor, BH: CEALE/Autlentica,
pp.185-205.
ROSA, João Guimarães. Sagarana. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 2001.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da
Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Caderno do Professor: literatura volume 1. Linguagens,
Códigos e Suas Tecnologias. SEE, 2010.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da
Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Prática Pedagógica: língua portuguesa 2º grau. São Paulo, 1993.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da
Educação. Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas. Caderno do Professor: literatura, volume 2, linguagens,
códigos e suas tecnologias, língua portuguesa 2º grau. São Paulo, 2010.
SILVA, Alisson Luiz da. A liberdade dos desvios na escrita.
Disponível em: http://www.webartigos.com/articles/25842/os-neologismos-em-sagarana-de-guimaraes-rosa/pagina.html#ixzz1s10olmrg.
Acesso em 3 de agosto de 2011.
ANEXO
SEQUÊNCIA DIDÁTICA: Adaptação
do Conto para o Teatro
AULA 1.
A Troca
Objetivos: resgatar o currículo internalizado do discente
como também do professor sobre o universo teatral; desenvolver habilidades de
escrita e outras (desenhar).
Recursos: folha A4 e lápis HB
Aplicação: O professor apresenta a proposta inicial: os
alunos farão uma representação livre, escrita ou por meio de desenhos, dos seus
conhecimentos sobre o teatro. Também deverão compartilhar com os colegas se já
assistiram a uma peça de teatro e relatar como foi esta experiência.
O professor também deverá participar
da atividade, fazendo a representação da sua experiência de entretenimento
relacionada ao tema. Para concluir a aula, o professor recolherá a atividade e
falará brevemente sobre as origens do teatro e suas características, convidando
os alunos a dar a sua opinião sobre o tema. O professor recolherá o material
que foi produzido para uma avaliação comentada que será entregue aos alunos na
aula seguinte.
Avaliação: processual, acompanhando a interação do grupo.
Figura 1 – símbolo do teatro
AULA 2. História do Teatro
Objetivos: espera-se que os alunos possam
desenvolver a leitura e a escrita, bem como ampliar o conhecimento sobre o
universo teatral e artístico.
Recursos: trechos do livro Narrativa Dramática – uma proposta de leitura (ARAÚJO, et al., 2006); reprodução de
trechos de textos da História do teatro e fotos de peça famosas.
Aplicação: O professor iniciará a aula lendo um trecho do livro
Narrativa Dramática sobre o teatro
para, em seguida, escrever
na lousa um texto expositivo sobre a
história do teatro:
Ontem, hoje e
sempre, aqui e em qualquer lugar, pode-se fazer teatro – já se fez, se faz e se
fará! – eventualmente sem palco, sem iluminação, sem figurino, sem música, sem
maquiagem. Mas é impossível fazer teatro sem o homem, que é, ao mesmo tempo, a
matéria-prima, o meio e o destino da criação teatral. (ARAÚJO et AL, 2006, p.
17)
Em seguida, a turma se dividirá em
duplas ou trios, os quais deverão ler os trechos de textos teatrais em voz alta
com a atenção dos colegas. No final da aula, todos levarão os textos para casa
com o objetivo de planejar e preparar uma cena dramática ou humorística para
apresentar na próxima aula. O aluno trocará informações com o professor durante
o planejamento da pequena apresentação teatral. O discente é livre para
participar ou não desta atividade.
Avaliação: processual, acompanhando o desenvolvimento do
aluno numa situação em grupo.
Figura 2 – A Comédia Caipira na ETI
AULA
3. O Conto como objeto de estudo
Objetivos:
apresentar o universo
roseano para a turma; desenvolver habilidades de leitura e reconhecimento do
texto.
Recurso:
reprodução dos nove
contos de Sagarana, de Guimarães Rosa.
Aplicação: O professor organizará a turma em
nove grupos e cada um irá fazer a leitura em voz baixa de um dos contos para
então comentar o texto com os colegas do grupo. Este é o momento para um
reconhecimento superficial do conto.
Enquanto
os alunos leem e discutem sobre o texto, o professor organiza um sorteio com o
nome dos contos ora em
estudo. O texto sorteado será o objeto de análise das
próximas atividades.
Como
lição de casa, o professor indicará a continuidade da leitura dos contos e os
grupos deverão se reunir na casa de um dos membros ou na sala de leitura
(extraclasse) para concluir o entendimento do texto. È importante lembrar que,
tendo em vista a quantidade de contos, cada grupo será formado por no máximo
quatro alunos.
Avaliação: processual, acompanhando o
desenvolvimento na aquisição das
competências e habilidades.
Figura 3 – 2° FEST – Teatro Municipal de Santos
AULA 4. Contextualização do conto
Objetivos: aprofundar
conhecimentos internalizados; compreensão do estilo, linguagem e obra de Guimarães
Rosa
Recurso:
internet
Aplicação:
na sala de
informática, os alunos irão
pesquisar sobre a biografia de Guimarães Rosa, buscar imagens do autor, vídeos
e peças de teatro baseadas no conto “A
Hora e a Vez de Augusto Matraga” (conto sorteado). Em sala de aula, os alunos irão buscar informações sobre o
regionalismo do autor e a linguagem que ele utiliza. Os alunos deverão estudar
as características da linguagem do autor. Ao final, o professor aplica uma
atividade na qual os alunos devem fazer o reconhecimento da fala regional dos
personagens no contexto.
Avaliação:
processual,
acompanhando o interesse do aluno pelo tema ao navegar no hipertexto.
AULA 5. Teoria e História do conto
Objetivos: aprofundar
conhecimentos sobre o gênero conto
Recursos: material
preparado pelo professor, giz lousa, caderno do aluno, lápis ou caneta.
Aplicação: o
professor escreverá na lousa um texto expositivo sobre o conto e suas
especificidades, enquanto o aluno toma nota do conteúdo.
Na aula seguinte, o professor aplica
uma avaliação para os alunos, em que são cobrados conhecimentos sobre as
características do gênero conto.
Avaliação: prova.
Figura 5 – O
Teatro na E. E. Profº José Nigro
AULA
6. Análise do texto “A Hora e a Vez de Augusto
Matraga”
Objetivos: reconhecer
as características do gênero conto por meio de uma análise de texto; produzir
um resumo do conto escolhido para a adaptação da peça teatral.
Recursos: reprodução
do conto “A Hora e a Vez de Augusto
Matraga” dividido em nove partes, papel,
lápis ou caneta.
Aplicação: cada
grupo receberá uma parte do texto com o propósito de retirar dele aspectos
relacionados ao gênero conto e ao enredo. O grupo deverá elaborar também um
resumo daquele trecho do texto.
O professor recolhe as atividades para
avaliação; ele também explica à classe como eles irão trabalhar na adaptação do
conto “A Hora e a Vez de Augusto Matraga” para o teatro.
Avaliação:
processual,
acompanhando o desenvolvimento da escrita.
AULA
7. A
Composição do Resumo
Objetivo:
produzir em grupo um
resumo original do conto em estudo a partir dos comentários escritos na aula
anterior.
Recursos: lousa, giz, caderno do aluno.
Aplicação:
o professor propõe a escrita
do resumo, em sequência, do trecho do conto, produzido por cada grupo na aula
anterior. A leitura é feita em voz alta para que o professor, com a ajuda dos
alunos, possa compor o texto coletivo. Ao término, todos os alunos devem copiar
o resumo final:
Resumo:
A Hora e a Vez de Augusto Matraga
Guimarães
Rosa
Augusto
Esteves, filho do coronel Augusto Esteves, vivia no lugarejo das Pindaíbas e do
Saco-da Embira. Havia naquela noite uma novena na sua comunidade, no arraial da
Virgem Nossa Senhora das Dores do Córrego de Murici. Todos no pequeno lugarejo
o conheciam por Nhô Augusto, filho do coronel.
Quando
a procissão acabou, o leilão terminou rapidamente porque aquela gente séria
queria ir para casa. E a festa do leilão terminou sem graça. No entanto, o
leiloeiro continuou na barraca e a multidão encachaçada não arredou o pé do
local a espera de algum movimento inesperado. No local havia duas mulheres
à-toa, uma negra e outra branca.
Mas
o narrador que vê tudo e a todos, conhece bem a comunidade, pois faz descrição
minuciosa dos seus personagens, afirma que havia um capiau que estava gostando
da moça que o autor descreve como preta. Ocorre que a multidão começa a gritar,
e chamam a moça de Siriema por ter pernas finas e alongadas e a põe a leilão.
Foi então que a melhor oferta foi a de Nhô Augusto que arrematou a vítima que
passou a pertencer a ele indo embora com o estranho que não era o seu namorado
sob o aval da multidão.
Dionóra
fugiu com Ovídeo depois que soube do ocorrido no leilão em que o seu marido
comprou a Sariema (a moça preta). Nhô Augusto foi severamente castigado pelos
capangas do Major Consilga por não pagar as dívidas. Apanhou pra morrer e levou
ferradura na polpa da glute ia direita indo parar num barranco e dado por
morto. Foi salvo por um preto que morava na boca do brejo e permaneceu ali por
muitos meses a beira da morte. Houve um momento de arrependimento de todos os
seus pecados quando pediu a benção do padre com a promessa de regeneração e
penitência.
Nhô Augusto foi morar em povoado do
Tombador onde tinha um pedaço de terra e uma casinha para morar. Sem desejar
alegrias só trabalhava, ajudava os vizinhos e vivia momentos de introspecção. A
solidão tomava conta dos seus pensamentos e lembrava sempre dos conselhos do
padre. Observava a natureza, dormia e acordava cheio de remorsos e voltou a
fumar, sentir falta de mulher. Foi então, que nesse momento surgiu o grupo de
cangaceiros e ele deu comida e morada dias marcando com ferro a sua sorte.
O tempo passou e Nhô Augusto saiu sem
destino para onde o jumento que o levava decidia o seu rumo. E para o seu
infortúnio encontrou novamente o mesmo grupo de cangaceiros e morreu nas mãos
do chefe para defender gente estranha e inocente. Assim, Augusto Matraga
tornou-se herói após morrer para salvar algum inocente das mãos de criminosos,
andarilhos e cangaceiros.
Avaliação:
processual, acompanhando
o desenvolvimento da escrita.
AULA
8. Pré-Avaliação
Objetivo:
pré-avaliação dos
conhecimentos dos alunos sobre o conto “A
Hora e a Vez de Augusto Matraga”.
Recursos:
Caderno
do Professor LITERATURA (SEE, 2010, p. 32); o conto em
estudo, lousa, giz, caderno, lápis ou caneta, avaliação.
Aplicação:
o professor escreve
na lousa a didática do caderno do professor - Ensino Médio (volume 2) - e pede
ao aluno para copiarem no caderno:
No texto dramático, as personagens dispensam
a mediação do narrador, a história não é contada ao leitor e ao espectador, mas
sim mostrada como se fosse realidade. Portanto, para a construção de um diálogo
coerente, a adequação da linguagem torna-se essencial. (SEE, 2010,p. 32)
O professor aplica a seguinte
avaliação aos alunos:
1. Analise o trecho abaixo, extraído
do conto A Hora e a Vez de Augusto
Matraga. Qual o sentimento do homem preto e sua mulher ao salvar a vida do
personagem?
“[...] o preto, que morava na boca do
brejo, quando calculou que os outros já teriam ido embora, saiu do seu esconso,
entre as taboas, e subiu aos degraus de mato do pé do barranco. Chegou-se.
Encontrou vida funda no corpo tão maltratado do homem branco; chamou a preta,
mulher do preto velho que morava na boca do brejo, e juntos carregaram Nhô Augusto
para o casebre dos dois, [...] (ROSA, 2001, p. 376)
Avaliação: pré-avaliação
comentada.
AULA
9. Avaliação.
Objetivo:
diagnóstico sobre o
entendimento do conto em estudo.
Recursos: lousa, giz, folha avulsa, lápis ou
caneta, avaliação, o conto em estudo.
Aplicação:
o professor escreve
as questões na lousa e autoriza o aluno a responder as questões consultando o
texto.
Com fundamentação no ROTEIRO DE LEITURA 1 ELES NÃO USAM BLACK-TIE, de
Gianfrancesco Guarnieri, o professor organizará questões para uma prova
avaliativa (SEE, 2010, p. 29). Algumas questões serão formuladas a partir do
resumo do conto A Hora e a Vez de
Augusto Matraga.
Questões:
1.
Transforme a
linguagem regional do conto em estudo para a forma coloquial citadina. Como seriam essas falas? Dê exemplos
usando o texto.
2. Que
efeito seria produzido se essas falas estivessem na norma-padrão da língua? (SEE,
2010, p.32)
3. Qual o risco de uma incitação
pública contra uma pessoa indefesa como a personagem Sariema?
4. Na sua opinião, qual foi o grande
“pecado” cometido por Nhô Augusto?
5. Por que Nhô Augusto pode ser
considerado um herói apesar de ter cometido muitos erros na sua vida?
Avaliação: prova.
AULA
10. Adaptação do conto para a peça de teatro
Objetivo:
Adaptar o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga para
um texto teatral
Recursos:
caderno, lápis ou
caneta
Aplicabilidade: o professor (o) passa a tarefa da
adaptação da peça para os alunos fazerem em casa com correção na aula seguinte.
Avaliação:
processual,
acompanhando o desenvolvimento da escrita.
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