domingo, 31 de janeiro de 2016

Análise da POÉTICA de Manuel Bandeira por Gelza CRISTO






Noite de autógrafos em Adustina norte da Bahia

CRÉDITO FOTOGRÁFICO DE RONICLAY Paripiranga-BA



POÉTICA DE MANUEL BANDEIRA

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
[manifestações de apreço ao Sr. Diretor

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo
[de um vocábulo
Abaixo os puristas

Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis

Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de cognome. -senos secretário do amante exemplar com
[cem modelos e cartas e as diferentes
[maneiras de agradar as mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare

_ Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
Manuel Bandeira viveu para a literatura e a sua inspiração veio do seu próprio drama familiar, pois ainda jovem perdeu o pai, a mãe e a irmã. Foi acometido de tuberculose aos dezessete anos e viajou para um sanatório suíço em busca de tratamento.

ANÁLISE LITERÁRIA por Gelza Reis Cristo
No poema, Poética destacamos a poesia em prosa, os versos brancos e livres, o sumiço dos sinais de pontuação. Estas características estão explícitas claramente no terceiro verso.  Ausente de sequência linear. No entanto podemos pensar em dois momentos: no primeiro vem à negação em que o sujeito poético rejeita o lirismo passadista e apresenta suas características. Contém a emoção no “lirismo comedido”; “lirismo bem-comportado” e o comportamento exemplar do funcionário público.
O poeta defende o lirismo dos loucos e dos palhaços: marginais, antiburguês, nada convencional. Ao usar o travessão no final do poema o eu-lírico assina a sua negação em favor da liberdade das formas.
A primeira (1ª fase) explosão literária dos poetas modernistas ocorreu pós Semana de 22 até 1930. Foi nesse período que BANDEIRA produziu a sua obra mais expressiva, Libertinagem. Esta seria a que melhor representou o momento efervescente do Modernismo Brasileiro. O poema Poética revela o desejo de liberdade, o espírito mutante dessa geração que desejava anular o passado parnasiano repleto de regras, estrutura perfeita e excessivamente pontuada era uma luta de todos os poetas e criadores da arte em todos os ofícios da criação febril daquele movimento modernista;
Naquele momento a luta era pela ruptura da estrutura métrica, rima, e pontuação como também o uso abusivo de adjetivos e advérbios.  A negação da poesia parnasiana gerava a busca pela originalidade, o desejo de novas formas para a libertação do criador que necessitava de asas para a valorização do eu-lírico;
Há algo mais comportado e repetitivo que as ações do cotidiano de uma repartição pública? Abre livro, fecha livro e tudo é protocolo. Da mesma forma nascia o poema do parnaso que repudiava:
A estrofe da caixa de fósforos no soneto
O vômito das vogais iguais repetitivas
A aliteração do R nas raras rimas ricas
O som do vento, a canção perfeita e
a claridade da lua nas estrelas de BILAC.
O mistério das palavras no mestre da estética Alberto de Oliveira.








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