quarta-feira, 28 de novembro de 2012

ADUSTINA NA LITERATURA DE CORDEL




 Imagem 1 Feira de Adustina e Imagem 2 praça Alice Virgens Vidal

ADUSTINA NA LITERATURA DE CORDEL

IVONE GONÇALVES

Agora neste momento
Uma história vou contar
É a história de Adustina
Que na lembrança vai ficar.

Este nome de Adustina
Quem botou foi um Abreu
Foi o maior professor
É pena que já morresse.

Começou com uma feita
Que se fazia nas baraúnas
O grão coberto de lona
Pra ver se tinha fortuna.

Nesta feira tinha coisas
Que agora vou contar:
Tinha carne e inhame
Que são bons pra cozinhar.

Os primeiros habitantes
Eram raros pra se contar
Era a família dos Barros
Que habitavam no lugar.

Não esquecendo também
A família dos Vieiras
Era no terreno deles
Que se fazia a feira.

A escola neste tempo
Ficava na rua da igreja
Aonde os alunos todos iam
Aprender algumas letras.

A primeira professora
Foi Maria de Ovídio
Todos gostavam dela
Por algumas letras aprendidas.

O primeiro automóvel
Foi o de João Pimentel
Que vivia pra cima e pra baixo
Pra ganhar quinhentos reis.

Este carro foi malvado
E não durou muito tempo
Logo, logo virou.
Foi o carro de Jonas Nunes
Que a ninguém atropelou.

A água em Adustina
Era rara pra valer
Todos tinham que buscar
No Vasa-Barril pra beber.

Esta água também servia
Pra banhar e pra beber
No verão sempre ocorria
O povo tinha que buscar.

Neste lugar tão pequeno
Não havia nenhum médico
Se Deus não tivesse piedade
Todos já, pro cemitério.

Os remédios antigamente
Todos eram bem caseiros
Entre eles vou citar
Erva-doce e cajueiro.

Em Adustina também tem
Muitas pessoas folclóricas
Antônio Barros, alguns veem
Como nosso vulto histórico.

José Ribeiro o brasileiro
O conhecido Revoltoso
Além de ser sertanejo
Era um policial famoso.

Antônio Ramos, todos sabem
Acoitava o Lampião
Por ser rico e importante
Defendia Adustina da maldição.

Naquele tempo a polícia
Perseguia Lampião
Turma muito malvada
Eram os reis da maldição.

Aqui em Adustina
Todos, a eles temiam
Mas para quê tanto medo
Se a polícia defendia.



Homenagem aos professores de Adustina

César G. Andrade

Há uma pessoa
Humilde e trabalhador
Que todos nós
Devemos dar valor.

Esta pessoa
Só trás paz e amor
Esta pessoa
É o nosso professor.

Esta pessoa
Que tanto se esforça por nós
Receba esta pequena homenagem
Que fiz para vós.

Para ser um professor
Tem que ser capacitado
Deve ser estudioso
Desde a sua mocidade.

Todo professor
Tem função especial
Pra ensinar o aluno
A educação moral.

Existem ainda os problemas
Que o professor enfrenta
Aqueles problemas
Que cada aluno apresenta.

Quando o professor vai corrigir
Um teste mal resolvido
Ele tem dificuldade
Pra corrigir o teste desordenado.

Há um outro problema
Que o professor deve sentir
É quando o seu aluno
Sua aula não quer assistir.

Ser um professor
É um trabalho difícil
Pra se chegar lá
Tem que haver sacrifício.

Cada aluno na sala de aula
Deve bem se comportar
Para que seu professor
Não venha se maltratar.

Quando o aluno
A ele não dar nenhum valor
Este aluno ainda não sebe
O que é ser um professor.

O professor deve ser louvado
E bem valorizado
O seu ensino abençoado
Pois ensina o pai e o filho amado.

A todos os professores
Do nosso querido Brasil
Recebam o meu abraço
Deste aluno gentil.

A CASA

César G. Andrade

Existe uma coisa
Que todos devem dar valor
Porque é através dela
Que muitos fazem amor.

Hoje ela pode não ser nada
Amanhã ela será tudo no mundo
Pois sem ela
Muitos podem ser vagabundos.

Muitos já as têm
Mas não sabem dar valor
Tantos outros querem ter
E não passam de sonhador.

Ela é útil a todos nós
Mas não é bondosa
Nem espirituosa
Pra quem a destroi.

Ela pode ser pequena
Ela pode ser grande
É de muito valor
E a todos abrange.

Ela é um abrigo
Ela é uma pousada
Livre de chuva e vento
E também da trovoada.

Ela é uma amiga
Ela é uma morada
Ela não é mais
Do que uma casa.

A nossa casa
A casa dos outros
A casa de todos
Sabem dar gosto.

Deveria haver uma lei
Pra todos os Presidentes
Darem uma casa
Para àqueles mais carentes.

Aqueles que são pobres
Aqueles que não têm nada
Aqueles que nunca conseguem
Possuir uma casa.

A CANTAREIRA

CÉSAR G. ANDRADE

Todos jogando
O ponta lançando
A bola rolando
E a torcida apoiando.

O CANTAREIRA é isso
Todos torcendo
E o adversário
Sempre temendo

Todos são jovens
Mas entendem de bola
Os adversários reconhecem
E vão dando o fora.

Todos são companheiros
E jogam por um ideal
Ganhar mais um jogo
De forma legal.

CANTAREIRA é o time
Que joga no frio ou calor
É o time que sempre
Eletriza o espectador.

O CANTAREIRA
Joga com muita habilidade
Joga com toda calma
E vence com facilidade.

CANTAREIRA é meu time
Timão pra valer
E não é à toa
Que também podemos perder

Por este time
Todos têm amor
Pois jogamos neste time
E não guardamos rancor.

Vamos conhecer meu time
E quem faz o CANTAREIRA
Começo pelo goleiro
Que nunca fez besteira.

Nosso lateral é forte
Igualmente um touro
O adversário tenta passar
Mas termina no choro.

O Meio de Campo
Não tem nada igual
E todos correm
Pelo mesmo ideal.

Os Ponteiros jogam
Com todo equilíbrio
E escutam da torcida
O grito do delírio.

O CANTAREIRA
Venceu e vencerá
Não há time nesta região
Que não possamos ganhar.

No clarão
Como na escuridão
O CANTAREIRA
Será sempre o campeão.

Escolha um time
E comece a torcer
Mas escolha o CANTAREIRA
Que não costuma perder.





















terça-feira, 27 de novembro de 2012

FLORBELA ESPANCA



FLORBELA ESPANCA
 Análise Acadêmica por Gelza Reis Cristo
Comentário: escrever um poema é como fazer uma massa: a inspiração vem primeiro.


Confrontam-se aqui duas obras, duas poesias do mesmo título, de Florbela  Espanca.  As poesias, com o mesmo título: “EU”. Neste trabalho podemos estabelecer uma comparação entre os dois momentos do eu-lírico quando tenta buscar uma definição para si próprio, utiliza-se dos recursos da arte literária para formar a imagem de si mesmo. A poetisa busca através da arte construir uma definição do “eu” em marcas profundas, numa indefinição onde estabelece um conceito onde tenta encontrar a auto-definição por definição. “Sai a que no mundo anda perdida”. O pronome demonstrativo a (aquela), é usado para mostrar e denunciar ou definir algo. Qual a definição procurada e questionada?
Como a arte é valiosa, poucos vêm e poucos notam, ela se encontra em todas as direções, ora como sonho, ora sofrida e mal amada, ora nunca vista: morta. Todos passam e a cegueira não permite a visão do belo que parece triste e da dor não compreendida.                                                                                                                         Numa Segunda leitura podemos perceber nos versos de Florbela certo grau de distanciamento: o que, aquela que. Mas, quem é aquela quê?  Um eu-lírico que generaliza aquilo que se diz dele mesmo e alguma vez indetermina o que se diz. Por vezes se distância o “eu” do “eu” um sendo a essência e outro a mente. Há um confronto de valor e perdição, ora existe, ora não se sente. Por vezes sonha, por vezes sofre. Escuridão, incertezas, nuvem que passa sem ser notada e que se dissipou sem ser vista ou notada. Mostra um “eu” latente que... No "mundo anda perdida” e em outro tempo diz que é um “eu” que não tem norte, sem direção e sem objetivo.

                                               EU...

                        Eu sou a que no mundo anda perdida,
                        Eu sou a que na vida não tem norte,
                        Sou a irmã do sonho, e desta sorte.
                        Sou a crucificada... a dolorida...

                        Sombra de névoa tênue e esvaecida,
                        E que o destino amargo, triste e forte,
                        Impele brutalmente para a morte!
                        Alma de luto sempre incompreendida!...

                        Sou aquela que passa e ninguém vê...
                        Sou a que chamam triste sem o ser...
                        Sou a que chora sem saber por quê...

                        Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
                        Alguém que veio ao mundo pra me ver,
                        E que nunca na vida me encontrou!

                                               X

                                               EU

                        Até agora eu não me conhecia,
                        Julgava que era Eu e eu não era
                        Aquela que em meus versos descrevera
                        Tão clara como a fonte e como o dia

                        Mas que eu não era Eu não sabia
                        E, mesmo que o soubesse, o não dissera...
                        Olhos fitos em rútila quimera
                        Andava atrás de mim... e não me via!

                        Andava a procurar-me __ pobre louca! __
                        E achei o meu olhar no teu olhar,
                        E a minha boca sobre tua boca!

                        E esta ânsia de viver que nada acalma,
                        É a chama da tua alma a esbrasear
                        As apagadas cinzas da minha alma!
                                                                                                    
No segundo poema, acontece o confronto do “eu” que não se encontrava e não era visto, com o “eu” real com a alma em chamas. O passado estava sendo observado como uma sombra de loucura que passara e dava espaço para o ver e o sentir. O “eu-lírico” se apresentava como um espelho afogueando a sua alma que queria viver e apagar as nevoa do passado dando espaços para as suas qualidades, mostrando-se um ser que tem sentimentos e é capaz de ver a vida como o bem mais precioso. O passado passou a ser algo questionável dentro dos novos valores. A razão do “penso, logo existo” foi notada no brilho do olhar pelo olhar e na visão do passado apenas como cinzas que se dissiparam nas nuvens do passado.

                        Como síntese, o primeiro poema é a morte a passar pela vida, e o Segunda como sendo a vida ressucitando um “EU” que no passado havia morrido. Nascia uma luz de entendimento entre o “Eu” mais o eu-lírico onde a vida (com sonhos e ilusões) vencia a morte vista como cinzas do passado.
“-... rútila quimera”. Mesmo que se conhecesse ainda tinha sonhos e ilusões. Na
poesia II o sentido do vazio foi achado e houve a necessidade de completar-se um ao outro: “até agora eu não me conhecia”. Buscando a arte como refugio.                

Osvaldo Névola Filho poeta brasileiro




MORRE OSVALDO NÉVOLA FILHO, A LUZ QUE ILUMINAVA A CULTURA DE SÃO VICENTE

Transcrição: Jornal Vicentino
Falecimento em 15 de setembro de 2003


OSVALDO NÉVOLA FILHO

O último trabalho do Professor Osvaldo, poeta e estrela da mais bela grandeza, pode ser visto no Instituto Histórico e Geográfico de São Vicente (Casa do Barão), onde uniu sua poesia com fotos de Gilberto Grecco

A Educação de São Vicente está mais pobre. A cultura vicentina perdeu seu maior expoente, sua estrela mais brilhante que agora ilumina o céu com suas poesias, arte e cultura sólida, que passeava com muita desenvoltura em todos os campos, da literatura ao cinema, do teatro à música e ás artes plásticas, ou seja, passava e encantava a todos com uma sabedoria e conhecimento por todas as manifestações culturais desta Nação miscigenada, por isso mesmo tão rica racial e culturalmente, chamada Brasil.
São Vicente, São Paulo, Brasil e o mundo perdeu o educador e poeta Osvaldo Névola Filho, que faleceu na segunda-feira, 15/09.

SV – Se a arte e a poesia delicada e sensível de Osvaldo Névola Filho não teve o reconhecimento que merecia em São Vicente e Baixada Santista, a quem dedicou toda uma vida à cultura e ensinando, educando, informando e formando cidadãos, o trabalho de Osvaldo Névola Filho é imortal. As poesias e produções de Osvaldo Névola Filho são conhecidas e premiadas em todo o Brasil e em várias partes do mundo. É uma obra que fica para sempre e que, na certa, irá encantar e ainda merecer o respeito e o reconhecimento das futuras gerações.

POETA – Sem ter tido em vida as homenagens e o apoio que lhe era de direito em São Vicente, Osvaldo Névola Filho, que nunca escondeu sua mágoa com a falta de consideração do poder público local, dedicou seu tempo e amor à arte para a Casa do Poeta E Casa da Cultura, que eram suas maiores paixões.

JV – No JV, Osvaldo Névola Filho durante muito tempo manteve uma coluna em que falava de arte, de cultura e divulgava todas as manifestações artísticas e culturais da cidade, da região, de São Paulo, Brasil e do mundo. Para o professor Osvaldo, arte e cultura não tinham fronteiras ou barreiras e nem preconceitos.

CONSAGRADO
Poeta consagrado e festejado pelos meios culturais de todo o Brasil e com prêmios internacionais, Osvaldo Névola, que possuía a cultura erudita misturada com a popular, no ano 200, quando o Brasil completou 500 anos do descobrimento, compôs com seu sobrinho, Luiz Cláudio, um dos mais belos sambas enredos que se tem notícia para o Carnaval do Rio de Janeiro. O samba do professor Osvaldo e Luiz Cláudio venceu as eliminatórias feitas em São Vicente e chegou quase a final da escolha do samba enredo da Escola de Samba Beija Flor de Nilópolis, Rio. Acabou injustamente desclassificada, mas até hoje ninguém esquece dos belos versos do professor Osvaldo colocados num samba enredo que mereceu elogios até de Leci Brandão, uma das maiores conhecedoras do carnaval carioca.


EDUCADOR – Como educador, professor Osvaldo dedicou quase toda vida a Rede Municipal de Ensino de São Vicente, tendo se aposentado da Prefeitura há pouco tempo. Diretor da Escola Municipal Raquel de Castro Ferreira, uma das mais tradicionais de São Vicente, Osvaldo Névola Filho revolucionou a arte de educar, de passar conhecimento, recebendo apoio e reconhecimento de professores, estudantes e pais. Para Osvaldo Névola Filho escola não era só para ensinar, mas também para formar cidadãos.

DEDICAÇÃO – A dedicação de Osvaldo Névola Filho na Direção da Escola Municipal Raquel de Castro Ferreira era tanta, que em fins de semana lá estava ele, com um martelo, uma pá de cimento ou um rolo de tinta pintando e realizando reparos e outras obras com as próprias mãos. A escola era uma extensão de sua casa, os alunos uma extensão da sua própria família.

ESTADUAL – A fama de educador de Osvaldo Névola Filho rompeu fronteiras das escolas municipais e seu nome acabou denominando uma biblioteca na EE Ênio Vilas Boas, no jardim Pompeba, em São Vicente, fato que trouxe muito orgulho ao professor em seus últimos meses de vida.

SIMPATIA – Com sua simpatia, educação ímpar e jeito carinhoso de se dirigir e tratar as pessoas, Osvaldo Névola Filho sempre conquistou amigos. Quando chegava à sede do JV para entregar sua coluna sobre cultura, o professor Osvaldo iluminava o ambiente com sua sabedoria e jeito humilde de ser. Tratava a todos de forma igual, com respeito e consideração, sem jamais ter levantado na vida seu tom de voz aveludado que soava como música para os ouvidos que o escutavam.

JAPÃO – Tendo viajado por vários países do mundo, Osvaldo Névola Filho tinha um amor todo especial pelo Japão, pela cultura milenar e culinária da Terra do Sol Nascente, que conheceu quando participou do convênio de Cidades Irmãs de São Vicente com Naha, situada na ilha de Okinawa. Na verdade o amor de Osvaldo Névola Filho e sua grande paixão foi a cultura, com quem se casou por toda a vida e jamais a abandonou desde quando deu os primeiros passos no mundo mágico da arte participando do TEMA-Teatro Estadual Martim Afonso -, grupo teatral que surgiu na mais tradicional escola de São Vicente, o Martim Afonso, ainda no tempo de estudante.

VAZIO – A morte de Osvaldo Névola Filho irá deixar um vazio imenso no coração de seus amigos, familiares, companheiros do mundo artísticos e, sobretudo na cultura vicentina e da Baixada Santista, que perde o renomado poeta da geração mais recente. A esperança é que seu exemplo, seja seguido, que a semente que plantou dê belos frutos, posto que Osvaldo Névola Filho é imortal e sua obra ficará para sempre para que gerações e gerações possam se deliciar com a sensibilidade e a maneira como o professor transformava cada palavra, cada verso, numa obra prima de arte que mexe com o imaginário e com a emoção que muitas vezes vive adormecida no coração das pessoas.

ADEUS – Nesse momento de dor e perda, cuja ferida se transformará numa doce saudade, mas jamais irá ser cicatrizada, toda a família JV que leve o privilégio de conviver com o professor Osvaldo Névola Filho: seu diretor-presidente  Ricardo Rocha (Rochinha) e esposa Neide; e o vereador Roberto Rocha, enviam as mais sinceras condolências à família do professor e poeta que por ser imortal, não morreu, apenas para um estágio superior nesse universo, pois era um espírito iluminado e muito superior.
            Adeus, professor Osvaldo Névola Filho, que a essa altura deve estar, com certeza, fazendo poesia para os anjos no céu . Descanse em paz ‘poetinha’, pois como você gostava de citar Guimarães Rosa, é bom lembrar o que o escritor mineiro disse na boca de um dos seus famosos personagens que:
__ pessoas boas não morrem, elas ficam encantadas. [...]


Agradecimento de Gelza Reis Cristo

Obrigada pelo carinho, pela herança cultural, por ter elevado o meu trabalho poético nesse jornal tão popular que fez essa homenagem merecida ao professor poeta e Diretor da EE Municipal Raquel de Castro Ferreira. Perdemos um companheiro das noites poéticas e dos eventos culturais de São Vicente e região. Descanse em paz!