Cozinhar é uma arte muito especial...
Geração de mulheres que futuramente estarão extintas. Elas ainda fazem queijo e sabão, manualmente.
No Automático da
Emoção
Desligou a chave do cotidiano
porque queria viver emoções. No dia do seu aniversário tudo deveria ser
especial: o amanhecer, um tiquinho de felicidade, pois era totalmente diurna e
da madruga. Queria naquele dia fazer algo que realmente amasse e fosse a sua
paixão interior. Escrever sempre fora o seu alimento das horas silenciosas e
também difíceis. Doaria o objeto amado como se fosse uma rosa. Sempre lançou
rosas, jamais espinhos.
Fabricar e vender, criar filhos,
escrever e fazer acontecer. Mudar todos os dias e ser uma mulher plena de
realizações. Naquele dia tudo deveria ser diferente porque ela queria sentir o
êxtase da emoção. Somente a paixão movia mais que o necessário aquele momento
de fogo interior.
Sentou-se no leito e fez uma
oração e sofreu pelas mulheres que não tiveram a sua coragem de virar todas as
mesas e cadeiras ao seu redor; muito menos se expor tão publicamente como ela
tencionava, planejava e fazia...
Ouvira tantas confissões:
A Lucy fizera o curso de
psicologia e sem conseguir um emprego e nem condições de abrir um consultório
acabou operando caixas em lojas de departamentos. E não podia ver uma amiga
porque ela algo lhe cobraria. Escondia-se de tudo e de todos. Aos 40 anos ainda
estava solteira e resolveu ser vendedora autônoma. O pior de tudo é que se
sentia incapaz na profissão e os descontos levaram-na a ruína. Sua melhor
amiga, aquela que ela fez questão de abrir mão, sofria à distância sem saber
como abordá-la para dizer “Eu te amo!
E a Vilma que era secretária de
uma grande empresa? Casou-se com um metalúrgico ciumento que lhe cortou as
asas: “Nada de trabalhar fora; você não precisa!”. Disse-lhe que só desejava
uma mulher exclusiva, doméstica e cheirosa.
O tempo passou e quando as amigas
se encontraram todas lamentavam pelo que deixaram de fazer em nome do
casamento. Enfim a separação passou a ser o prato principal quando o século XXI
chegou cheio de mudanças e tecnologias. Quem não mudou permaneceu cada vez em
marcha ré, como se precisasse nascer de novo. Como acompanhar tanta velocidade?
Que loucura!
Todavia a nossa personagem
misteriosa continua mudando e nem tem a intenção de mirar apenas uma profissão;
ela é assim: vive no risco de algum dia acertar, ou será que ela já é uma
vencedora?