Com a
lâmpada do sonho desce aflito
E sobe aos
mundos mais imponderáveis,
Vai abafando
as queixas implacáveis,
Da alma o
profundo e soluçado grito.
Ânsias,
Desejos, tudo a fogo escrito
Sente em redor,
nos astros inefáveis.
Cava nas
fundas eras insondáveis
O cavador do
trágico infinito.
E quanto
mais pelo infinito cava
Mais o
Infinito se transforma em lava
E o cavador
se perde nas distâncias...
Alto levanta
a lâmpada do Sonho
E com seu
vulto pálido e tristonho
Cava o
abismo das eternas ânsias!
(Poesias completas de
Cruz e Sousa. Rio de Janeiro: Ediouro, s.d. p. 109.).
Falar e honrar a importância de Cruz e Sousa no Simbolismo
brasileiro é uma obrigação de todo estudioso e pesquisador brasileiro. Nesse
texto a autora Gelza Reis Cristo vai além dos estudos; ela como poeta também
enxerga pela introspecção do eu lírico como um todo. E principalmente do
contexto da vida e obra desse poeta maior do século XIX na sua segunda metade
década de 80.
Cruz e Sousa, filho de escravos, nasceu em Florianópolis,
Santa Catarina. E foi protegido por uma família de aristocratas que o ajudou na
sua formação. Depois da morte de seu protetor ele seguiu a sua liberdade para
trilhar único na sua visão de mundo. E cavar o seu profundo Infinito poético.
Trabalhou na imprensa, escreveu crônicas, foi abolicionista ativo e
discriminado pela sua Terra. O preconceito racial é imortal assim como a sua
poesia de pontos impecáveis para reflexão de uma sociedade racista de difícil
compreensão aos olhos de poeta.
Cruz e Sousa é a estrela Maior do Simbolismo brasileiro. A
sua poesia rica em diversidade e riqueza por seus aspectos ora noturno, com uma
veia do Romantismo no seu culto ao noturno, ao satanismo que povoa dor e morte,
típico da época onde o artista morria muito jovem por diversas causas. E uma
delas era a tuberculose. Ora era uma formalidade Parnasiana, um esmero em
lapidar e dar um sentido maior as palavras com a sua inicial maiúscula: elas
precisam (imortais) ser vistas com um olhar gigante e sentido amplo. Cada
palavra compõe um contexto de sonhos e desejos do poeta Simbolista.
A tristeza por desejos não realizados, bem como a realidade
do contexto social ante a vontade de ver o que não lhe agradava ser banido do
mundo ao qual o rodeava. O poeta fugia da realidade desligando-se da matéria
para unir-se cada vez mais ao espiritualismo transcendente. Havia um drama
dentro de si, um inconformismo da dor de ser negro e carregar no peito a marca
da sua geração de escravos. Os seus temas revelam a essência de sua poesia: O
Mistério; O Sagrado; A Morte; O além da espiritualidade e o seu mundo Cósmico.
A Análise: Catador do Infinito
O eu lírico do poema “Cavador do infinito”, cujo título já
revela uma metáfora, um termo subtendido e nele vive a sua existência
introspectiva. Ele não se sente capaz de avaliar o poço infinito da sua
inquietação. Carrega na alma um soluçado grito. O poeta usa os verbos “descer e
subir”, para apresentar sonhos e conflitos, além de nos apresentar essa
antítese por meio dos verbos citados. A “Lâmpada do Sonho” é o ícone dessa
inspiração poética.
O eu lírico busca e soterra a dor do seu corpo que entristece
profundamente a sua alma. Não há mais cura; somente o universo das suas
palavras. A eternidade do seu sofrimento buscava uma resposta que levou a sua
existência ainda jovem, extremamente jovem.
O eu lírico buscou por respostas para a sua angustia de viver
num mundo de luta vã e sonhos não realizados. O eu lírico não cavava o universo
externo, mas o que de mais havia dentro do seu eu interior, pois rejeitava o
mundo material e abraçava a sua própria dor. Apesar da libertação dos escravos
o poeta sentia a rejeição social por ser um negro e também por ser rejeitado
por uma mulher branca. Mesmo que viva um período literário o eu lírico conhece
os sentimentos e a influência de cada palavra.